Frustrados com o péssimo resultado das lavouras de feijão, agricultores familiares de Santa Cruz do Sul iniciam o plantio da safrinha. Conforme estimativa da Emater-RSA/Ascar, em torno de 130 hectares da cultura devem ser plantados nos primeiros meses do ano. Fatores climáticos são apontados como os principais causadores da queda na produtividade na primeira safra. O principal deles seria a chuva durante o período de floração da planta. A média da colheita foi de apenas 800 quilos em cada um dos 150 hectares dedicados à atividade no município.
Feijão agora é artigo raro na kombi do agricultor Silvino Müller, de 69 anos. Ele utiliza o veículo para levar alimentos todas as segundas e sextas-feiras para a Feira Rural do Centro (Rua Fernando Abott). Nesta safra, porém, Müller conta ter colhido menos de uma saca do produto em um hectare plantado. Em anos normais, a área costuma render mais de 900 quilos. “Este ano foi muito ruim. A planta não se desenvolveu, foi muita chuva ali por setembro e outubro”, avalia.
Para suprir a demanda dos clientes, Müller alega que costuma comprar a produção excedente dos vizinhos. No entanto, nesta safra, todos tiveram dificuldades nas lavouras. “Sempre tem muita procura. Por exemplo, no ano passado eu vendia um saco de feijão por feira. Mas neste ano, o pessoal mal tirou pro consumo da casa”, frisa.
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Pelo excesso de trabalho e pela falta de mão de obra, Silvino Müller considera que não vai plantar feijão na safrinha. Segundo ele, a esperança é que os vizinhos tenham bons resultados e possam repassar parte da produção. Na propriedade de 24 hectares, localizada em Linha General Osório, interior de Santa Cruz, Silvino e a esposa Celsi, de 64 anos, cultivam também hortaliças e verduras. A renda com a comercialização na feira complementa as aposentadorias dos agricultores.
Conforme o técnico em agropecuária da Emater, Vilson Piton, as lavouras de feijão em Santa Cruz do Sul têm sido reduzidas ano a ano. Segundo ele, 60% dos 4,2 mil agricultores do município ainda mantêm áreas dedicadas à cultura, mas 95% deles, apenas para a subsistência. “É uma atividade bastante trabalhosa e de alto risco, muito sensível a fatores climáticos. O preço também é muito instável, o que acaba desanimando os produtores”, analisa.
Piton salienta que a incidência de chuvas logo após o plantio da safra 2015/2016 favoreceu o ataque de pragas e a queda da floração. Ele observa uma redução superior a 30% na produtividade. Conforme o técnico da Emater, na soma dos 150 hectares plantados em Santa Cruz, foram colhidos cerca de 120 mil quilos de feijão. Isso representa 800 quilos por hectare, quando uma produtividade razoável estaria em torno de 1,2 mil quilos por hectare. “O plantio nas pequenas propriedades é feito com pouco invetimento e baixa tecnologia aplicada. Isso interfere na produtividade e também no lucro dos agricultores. A tendência é que aos poucos os médios produtores, que trabalham com mecanização, assumam esse mercado”, enfatiza.
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Müller compra excedente dos vizinhos para atender os clientes
Foto: Lula Helfer
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