Para as festas de fim de ano Pedro Haas Lacerda, de 68 anos, não pensou em nenhum preparativo. Talvez faça uma comida um pouco mais elaborada, em seu fogão a lenha. Por enquanto, só espera passar uma noite tranquila. Nos anos em que esteve isolado do mundo, em um casebre próximo de uma lagoa, datas como essa passavam despercebidas. Por isso, a ideia de preparar algo especial nestes dias ainda é algo com que ele está se acostumando. Uma novidade entre as tantas que ele vem vivendo há um ano. Depois de 29 anos tratado como escravo em uma fazenda, em Rio Pardo, pela primeira vez ele estará em sua própria casa no Natal e no Ano Novo. E isso para ele é motivo de alegria. Todos os dias.
Assim que o carro estaciona em frente à casa, seu Pedro sai ligeiro da cozinha. Precisou interromper seu café da tarde, mas não se contraria. Fica sempre alegre com uma nova visita. Conhecido na localidade, cumprimenta todos que passam por ali. “São umas ricas de umas pessoas. Me dou bem com todos”. Em uma tarde abafada, que passa dos 30ºC, seu Pedro não se importa com o calor, que faz o suor escorrer pelo rosto. “Acho que me acostumei”. No casebre onde vivia, sem energia elétrica, não havia como ter ventilador. Agora o aposentado planeja comprar um, mas não tem pressa. “Vou comprar sim, mais adiante”.
Apesar de não ter nenhum compromisso que exija acordar cedo, a rotina de décadas fez seu Pedro se acostumar a levantar bem antes do sol nascer. Se esforça para ficar na cama até 4h30. Assim que acorda, acende o fogo e coloca a água para esquentar. É o preparativo para o chimarrão. Está contente. Ganhou de um vizinho uma cuia nova. É novo também para ele aprender a conviver com gestos de solidariedade. Não se cansa de elogiar as pessoas. De muitos tem recebido doações. Mas o que mais lhe alegra são as visitas. “Só o que eu quero agora é bastante amizade. E isso graças a Deus eu tenho”.
Publicidade
LEIA MAIS NA GAZETA DO SUL
DESTE FIM DE SEMANA
Publicidade