Você já se imaginou entrar em uma loja que vende tecidos em metro, como ban-lon e volta ao mundo, no balcão ao lado encontrar uma garrafa fechada da antiga Brahma Chopp ou um vidro do fortificante Sadol? Pois no armazém Schlosser, em Linha Brasil, isso é possível. E lá ainda existem muitos outros artigos guardados ao longo de décadas.
Linha Brasil, a quatro quilômetros do centro de Monte Alverne, foi fundada em 1873, por imigrantes alemães vindos da Boêmia. Apesar das dificuldades iniciais, a localidade prosperou e, já em 1891, nasceu a primeira casa comercial. Em 1909, surgiu outro estabelecimento, pertencente a Henrique Nührich. Em 1911, ele foi transformado na Cooperativa Linha Brasil, que produzia banha.
A cooperativa funcionou até 1937, quando Rudolf Henn adquiriu o local e reabriu a casa comercial. Depois vieram outros proprietários (Edgar Schuler e Nilo Bartholdy) e, em 1969, Willibaldo Schlosser comprou a estrutura. Hoje, quem dirige é sua filha Noeli Müller. Segundo ela, tudo está igual, assim como lhe foi repassado pela mãe, há 13 anos. “Não mexi e não vou mudar nada. Só agreguei mais itens. “ Explica que ainda irá trabalhar por três ou quatro anos. “Depois, vou ver o que faço com o estoque, os móveis e o prédio.”
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Conforme Noeli e sua irmã Liane Gass, sempre que o armazém era vendido, o novo proprietário adquiria junto as mercadorias. Com isso, há produtos com 50, 60 ou mais anos ainda dentro das caixas. O que mais chama a atenção, no entanto, é o enorme armário de madeira maciça, com portas envidraçadas, onde são guardados os tecidos em metro.
Raramente, o armário é aberto. Noeli perdeu a noção dos preços e cobra R$ 3,00 ou R$ 4,00 por um metro de fazenda. Conforme ela, às vezes os sócios de CTGs compram alguma coisa para confeccionar camisas ou malas de garupa. Tiras de pelúcia são vendidas para lustrar móveis.
Casa comercial revela apego das filhas pelas lembranças
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Quem entra no armazém Schlosser tem a impressão que o tempo parou. Lá é possível encontrar garrafas de bebidas antigas, medicamentos e muitas peças de tecidos como ban-lon, volta ao mundo, brocado, cretone e cambraia. Nas gavetas, há rolos de linha, agulhas, botões e elásticos.
Nas prateleiras, existem louças, copos, talheres, cobertores, bacias, panelas, penicos e outros. Noeli Müller diz que só não tem cartão de celular para vender. O resto tem tudo: ferragens, chinelos, ferramentas, vermífugos, fortificantes, sal amargo, remédios, etc. Conta que já recebeu propostas para negociar os armários e balcões de madeira maciça, mas não pretende fazê-lo ao menos por enquanto.
Apegada ao passado, faz questão de mostrar a casa onde moravam seus pais, junto ao armazém. Explica que está tudo igual como eles deixaram: a cuia, as panelas penduradas no paneleiro, a caixa de lenha ao lado do fogão, os armários cheios de vidros com conservas e schmier. O velho relógio de parede está parado e, desde que Willibaldo e Hermina faleceram, não recebeu corda e não bate mais as horas.
Sacos de pano viravam roupa para ir à roça
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Liane e Noeli são filhas dos falecidos Willibaldo e Hermina Schlosser. A outra filha, Celita Bender, também já é falecida. Liane é professora aposentada e fez uma pesquisa sobre a localidade, a cooperativa e a casa comercial. Conta que, quando jovem, o movimento era grande. “Era bonito de ver as carroças e os cavalos amarrados nos palanques, na frente do armazém.”
Os noivos que iam casar vinham com os pais comprar o enxoval. Adquiriam desde louças até roupas de cama e saíam com a carroça lotada. Nos batizados, as roupinhas eram adquiridas no local. Até hoje ainda existem conjuntinhos para bebês guardados em caixas empoeiradas.
Na época da venda do fumo, os colonos reforçavam seus estoques com sal, açúcar, farinha e outros. Tudo vendido em sacos de pano, que depois viravam roupas de trabalho. As famílias também costumavam comprar peças inteiras de tecido. A confecção era feita em casa. Depois, pais e filhos chegavam nas missas, festas e bailes com as vestimentas iguais.
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