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Madre Paula abre as portas do mosteiro

Não é preciso sino, nem despertador. Às 15 horas, as nove irmãs que habitam o Mosteiro da Santíssima Trindade se reúnem na capela para a quinta das sete rezas diárias. Exemplo de anfitriãs, elas convidam os visitantes um tanto perdidos para ingressar naquele momento em que param para refletir. Antes de dar início ao período em que as suaves vozes reverberam entre as paredes da pequena sala, uma presença é aguardada. Madre Paula Ramos, a mãe espiritual do grupo, adentra a passos lentos e, após a saudação em frente ao altar, começam as leituras e cânticos. Cerca de 15 minutos depois, regido pelo completo silêncio de Linha Travessa, interior de Santa Cruz do Sul, o culto é encerrado e as monjas retornam aos afazeres que contemplam artesanato, restauração de imagens, além dos cuidados com a casa e jardim.
Com aspecto doce, de quem vive para o bem, madre Paula, na incumbência de receber a reportagem, externa toda a hospitalidade aprendida nas leituras de São Bento – personagem responsável por escrever as regras de vida das monjas –, as quais indicam que os visitantes devem ser tratados com “respeito e admiração, como se fossem Jesus Cristo”.
Durante a tarde, a abadessa – superiora religiosa – se preocupa em mostrar o quão pacífica é a área rural onde fica o mosteiro, ao mesmo tempo em que evidencia uma memória impecável aos 84 anos. “A nossa filosofia de vida é muito simples. Se você ama Deus, deve amar também os filhos dele. A grande lógica do evangelho é o amor. É ele que plenifica o ser humano”, diz.
Embora distante cerca de 15 quilômetros da cidade, a vivência em clausura não significa solidão. É porque, envolvida com as três grandes regras da vida beneditina, a oração, o estudo e o trabalho, a mulher de baixa estatura e voz trêmula tem tarefas de sobra. Tanto que, muitas vezes, vai dormir perto da meia-noite para acordar às 5h15, horário estabelecido para o despertar das monjas. Mas, segundo ela, não há cansaço. “Estamos sempre tão ocupadas que nem vemos o tempo passar”, conta.
Entre as atividades que desempenha, estão, além da administração da casa, o acolhimento daqueles que buscam ajuda.  “Muitas pessoas vêm aqui apenas para chorar. Falam sobre os seus problemas, e isso também nos leva à reflexão. Nessas ocasiões, procuramos mostrar as pistas de qual pode ser o melhor caminho a ser seguido.” O segredo para manter a serenidade ao tratar de casos que abrangem inclusive abandono de crianças e envolvimento com drogas, a madre garante: é o equilíbrio. “Nós seguimos uma filosofia muito positiva. É um aprofundamento intelectual e existencial que nos leva a um plano de serenidade perante os acontecimentos”, reflete.
Única da família a seguir os passos religiosos, madre Paula conta que casar ou ter filhos nunca esteve em seus planos. Ela “deixou” essa incumbência para os oito irmãos. Por conta disso, diz ter uma “nuvem” de sobrinhos, os quais vibram quando ela dedica um período a visitá-los. “Hoje tenho apenas uma irmã de 94 anos viva. Quando vou até a cidade onde ela e os meus sobrinhos residem, é uma festa. É muito bom receber esse carinho.”
Mas nem só de trabalho é a vida da religiosa. Nos momentos em que deseja relaxar, ela se desloca à biblioteca do mosteiro – hoje com cerca de 4 mil livros – e mergulha em uma boa história. Gosta, igualmente, de cinema. “Há filmes que nos levam a arrebatamentos, a vivências espirituais altíssimas. Embora a clausura monástica tenha limitado a minha experiência nesta área, posso citar o faroeste Il Grande silenzio, de Philip Cröning como um dos meu favoritos. Sobre a comida preferida, prefere manter discrição.
Madre Paula foi criada em uma cultura que evidencia os valores intelectuais e espirituais, em oposição aos sensuais e corporais. “Havia um certo dualismo na educação. Me lembro que falar sobre comida era deselegante”, recorda. Mas não abdica de uma sobremesa ao jantar e adora degustar as tortas que os peregrinos mais chegados enviam ao mosteiro. Moderna, aproveita o acesso à tecnológia para se informar sobre os acontecimentos através de notícias e artigos sobre teologia ou se ocupa com o hobby da jardinagem. Senão, simplesmente aproveita a vista e contempla o horizonte de Linha Travessa aos fundos da casa.

Natural de Juiz de Fora, Minas Gerais, madre Paula formou-se assistente social aos 21 anos. Foi somente aos 22, entretanto, que optou se dedicar à vida beneditina. Conforme ela, o interesse pela religião se deu na catequese e seguiu no decorrer da adolescência. “Foi uma época de florescimento na Igreja e renovação da teologia, dos estudos bíblicos e da liturgia. Todas essas reflexões intelectuais me atraíam e me dei conta, aos poucos, que esse seria o meu trajeto de vida”, lembra. À época, a notícia de que se “entregaria” à clausura monástica chegou a assustar o pai, que era funcionário público. Com o passar do tempo, entretanto, a escolha foi aceita pela família.
Já na vida monástica, a irmã, antes de se deslocar a Santa Cruz do Sul em 1997, residiu em mosteiros de Fortaleza e Pernambuco e ainda conheceu a vida monástica de países da América Latina.  Hoje, em Santa Cruz, ela também orienta as irmãs que residem no mosteiro. Além de superiora, ela afirma, também é a mãe conselheira.

Com as obras de ampliação a pleno vapor, o Mosteiro da Santíssima Trindade vai ampliar a área de hospedagem. O objetivo, segundo madre Paula, é oferecer momentos de conexão espiritual longe das interferências da cidade. Interessados em auxiliar financeiramente com a reforma, podem depositar qualquer quantia  na agência 156, conta 66170-8, do Sicredi.

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