As últimas declarações do secretário estadual da Saúde, João Gabbardo, causaram estranheza à rede de hospitais sem fins lucrativos do Estado. A afirmativa de que “as pendências de pagamentos de outubro e novembro devem ser ‘absorvidas’ pelas entidades com alguma economia” originaram manifestações das instituições e da Federação das Santas Casas do Rio Grande do Sul.
Dispostos a esclarecer o dia-a-dia destes hospitais – responsáveis por mais de 70% do atendimento SUS mesmo trabalhando com déficits históricos – a Federação solicitou uma audiência, em caráter de urgência, com o secretário. “Não admite-se que os 245 hospitais sejam tratados de tal forma”, questiona o presidente da Federação, Julio Dornelles de Matos. “Os serviços prestados nos meses de outubro e novembro não podem ser ‘esquecidos’ pelo gestor e muito menos ‘absorvidos’. O trabalho foi feito, o pagamento também deverá ser feito”, argumenta.
Na última semana, após muita pressão tanto por parte de prefeituras como de hospitais e santas casas, o governo atual decidiu honrar as dívidas referentes a dezembro, que somam R$ 205,5 milhões (pouco mais de 1/3 dos R$ 498 milhões devidos). O núcleo do governo considerou que seria muito alto o custo político de ignorar as contas de dezembro, sob a justificativa de que foram feitas na gestão passada, uma vez que, via de regra, os pagamentos são feitos no mês subsequentes ao da realização da despesa. Neste caso, janeiro.
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De novembro para trás, contudo, a postura é outra. “Não vemos muita possibilidade de pagarmos 2014. Nosso objetivo é pagar em dia daqui pra frente”, informa Gabbardo. Com isso, o pagamento de pouco mais de R$ 300 milhões ficará em aberto. Somente o Hospital Santa Cruz, o maior da região, está deixando de receber cerca de R$ 1,5 milhão, além dos repasses aos hospitais Ana Nery e Monte Aleverne. Gabbardo não acredita que a cobrança dos valores possa ser questionada judicialmente por prefeituras, hospitais ou fornecedores.
O secretário justifica que, durante o governo passado, foram aumentados em muito os recursos para a saúde. “Os valores pendentes são muito pequenos se comparados com os incentivos recebidos nos últimos dois anos”, diz. Segundo os dados apresentados pelo secretário, em 2012, descontados gastos com o pessoal, as despesas correntes totalizaram R$ 933 milhões. Em 2013 subiram para R$ 1,4 bilhão e, em 2014, para 1,7 bilhão.
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