O mexicano Guillermo del Toro é um cineasta coerente. Seus filmes -“Hellboy” (2004), “O Labirinto do Fauno” (2006) e “Círculo de Fogo” (2013), entre outros- costumam ter as mesmas virtudes e limitações. A principal qualidade é a sofisticação visual. Cenografia, figurinos, maquiagem e efeitos especiais se somam em sua obra para trazer à luz criaturas e cenários originais, em geral no universo do terror e da fantasia.
O maior problema é que, cumprida essa parte da tarefa, Del Toro não sabe muito bem o que fazer com eles. E, dessa forma, personagens impecavelmente concebidos, vestidos e maquiados vagam sem rumo por paisagens de encher os olhos. A narrativa é sempre mais frágil que os valores de produção em seus filmes -e, por isso, o deslumbre do início costuma dar lugar, ao longo da projeção, a uma precoce fadiga de material.
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Nesse sentido, “A Colina Escarlate”, seu novo longa, não é exceção. O filme é um passeio de Del Toro pelo universo gótico, um promissor encontro entre o terror dos contos de Edgar Allan Poe e a educação sentimental dos romances de Jane Austen e Edith Wharton.
Na trama, passada na virada do século 19 para o 20, a escritora Edith Cushing (Mia Wasikowska), filha de um rico dono de mineradora americano, apaixona-se pelo misterioso e depauperado aristocrata inglês sir Thomas Sharpe (Tom Hiddleston). Quando o pai de Edith (que se opunha ao romance) morre subitamente, ela decide se casar com Thomas e se mudar para a decadente mansão dele na Inglaterra.
Ali, Edith irá ser obrigada a conviver com sua estranha cunhada Lucille Sharpe (Jessica Chastain), com espíritos que rondam a casa e com um mistério ligado ao passado de seu marido. A mansão fica no alto da tal Colina Escarlate -assim chamada porque, no inverno, a argila do solo tinge a neve de vermelho.
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Del Toro parece ter feito o longa para poder filmar a beleza dessa imagem. E, claro, para brincar de casinha mal assombrada -a sua está entre as mais espetaculares da história do cinema. O impacto visual e a qualidade dos protagonistas tornam “A Colina Escarlate” um filme ligeiramente acima da média do terror hollywoodiano. Mas não conseguem esconder o fato de que sua trama é genérica e previsível.
Apesar da pompa e da afetação, o filme se sustenta a partir de um certo momento nos sustos de fantasmas e no final descamba para a sanguinolência chique. E, assim, Del Toro confirma a sina de ser um cineasta de partida, mas não de chegada.
Confira o trailer:
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