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Tabaco

Lideranças pedem mais diálogo com empresas do setor

Organismos públicos e entidades discutiram ontem a situação delicada no relacionamento entre empresas e produtores na safra

Uma audiência pública foi realizada na manhã dessa quinta-feira, pela Comissão de Agricultura, Pecuária, Pesca e Cooperativismo da Assembleia Legislativa, para debater a situação da comercialização da safra de tabaco 2020/2021. A proposição partiu dos deputados Zé Nunes (PT) e Elton Weber (PSB). Até dia 27 de março, 30% da safra havia sido comercializada.

Os produtores entendem que as empresas não estão pagando o preço esperado, até pelas dificuldades produtivas, como aumento de custos e estiagem durante o desenvolvimento das plantas. Outro ponto levantado é a falta de arbitragem para que as empresas não pratiquem abusos em relação às tabelas de preços.

Conforme a Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), o preço médio da variedade Virgínia é de R$ 10,18. Contudo, o custo de produção chega a R$ 10,00, em média. O deputado Zé Nunes salientou a incoerência do sistema de classificação. “O agricultor fica vulnerável. O comprador define a classe, mas é um funcionário, e deve satisfação somente à empresa. O processo de classificação é uma farsa. É um sistema que convém às indústrias”, frisou.

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O deputado Elton Weber acredita que é necessário mensurar o custo de produção em conjunto. “Não podemos deixar o que foi construído em defesa da fumicultura. Precisamos ter mais diálogo e negociação por meio das entidades. Senão, corremos o risco de nos fragilizarmos, enquanto aqueles que atacam o setor ficam mais fortes”, sublinhou.

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O primeiro encontro para uma estimativa do custo será dia 12
O representante da empresa JTI, Paulo Saath, afirmou que acredita no diálogo para a construção de uma cadeia produtiva cada vez mais sustentável. Segundo ele, há uma redução de até 3% por ano no consumo de cigarros desde 2012. No mercado brasileiro, os produtos ilegais chegam a 60%. Os créditos retidos de ICMS do tabaco trazido de Santa Catarina e do Paraná, segundo ele, tornam-se dinheiro parado, e sem correção.

De acordo com Saath, a JTI trabalha com cinco pilares na relação com o agricultor: boas práticas agronômicas, produtividade, eficiência para redução de custos, qualidade e cumprimento integral do contrato. Os custos de insumos para a safra 2022 terão aumento de 4,7% no Virgínia e 5,9% no Burley. No dia 12 de abril haverá a primeira reunião para estimativa do custo de produção, com a participação de produtores.

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“Temos a preocupação de uma cadeia mais sustentável e consistente na margem para o produtor. A progressão de preço médio está atrelada à assistência técnica, para maior produção e de maior qualidade. Há uma portaria que define o valor máximo de 17% de umidade. Com relação ao preço, a JTI sempre tem ficado acima da média divulgada pela Afubra”, salientou Saath.

Gerente de Sustentabilidade da Souza Cruz, Carlos Palma comentou que a qualidade da safra está melhor pelo clima e pelo trabalho das equipes de campo, o que ajuda nas condições de comercialização. Para aferir a umidade, segundo ele, há um equipamento dentro dos padrões e a tolerância é acima do mencionado na portaria específica.

Nos insumos, o preço é divulgado após a definição do pacote tecnológico. “Com o dólar em alta, o impacto será visível, principalmente nos fertilizantes”, afirmou. Palma acrescentou que o diálogo é mantido com os produtores e que os contratos são cumpridos na íntegra. “Os produtores devem plantar o que está previsto em demanda. O planejamento é importante nesse sentido. Ainda precisamos combater o mercado ilegal, de 50% no Rio Grande do Sul. A perda em 2019 foi de R$ 327 milhões em ICMS e R$ 32 milhões no FPM. No Brasil, a perda é de 173 mil empregos”, frisou.

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A audiência ainda contou com as participações da deputada Kelly Moraes (PTB); dos deputados Marcelo Moraes (PTB), e Beto Fantinel (MDB); do coordenador do Sindicato dos Trabalhadores na Agricultura Familiar de São Lourenço do Sul e Região (Sintraf-Sul), Luís Weber; do coordenador técnico da área de Turismo da Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs), Mário Nascimento; do produtor Eliandro Strelow Müller, de Canguçu; do produtor Douglas Rodrigues, de Camaquã; do coordenador institucional da Secretaria Estadual de Agricultura, Pecuária e Irrigação, Gabriel Fogaça; do coordenador da Câmara Setorial da Secretaria Estadual de Agricultura, Pecuária e Irrigação, Paulo Lipp João; e da vereadora de Camaquã, Marivone Ramos (PT).

O PONTO DE VISTA DAS ENTIDADES
É preciso recuperar a negociação

O presidente da Afubra, Benício Albano Werner, acredita que é necessário recuperar a negociação entre o SindiTabaco e as afiliadas com a representação dos agricultores. Atualmente, segundo ele, as tabelas de valores têm diferenças enormes, entre 1% e 6%. “Não tivemos negociação nesta safra. A tabela de preços foi imposta. A única tratativa foi com a JTI, que também não chegou ao mínimo esperado. O problema está nas empresas”, enfatizou. Outro aspecto levantado é a devolução por desacordo comercial e umidade das folhas, mesmo sem o equipamento necessário para a medição.

A tabela em vigor está defasada
O coordenador do Fórum Nacional de Integração Agroindustrial (Foniagro), José Amauri Denke, participa das negociações de preço do tabaco há mais de dez anos. Para ele, o diálogo das empresas com os produtores precisa ser melhorado. “Não entendo por que as empresas não querem fazer o custo de produção em conjunto. Elas não chegam nem aos seus próprios custos de produção”, ressaltou. Segundo Denke, a tabela de preços está defasada. Como representante de produtores do Paraná, ele relatou a dificuldade logística pelo deslocamento até o Vale do Rio Pardo para a venda da produção. “O produtor precisa ter uma segurança maior. Muitas vezes, não recebem nem o que investiram para produzir. Não conseguem cobrir os financiamentos que fizeram”, concluiu.

Só quem repassa custo é a empresa

Para o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul (Fetag), Carlos Joel da Silva, praticamente não há negociação sobre o preço. Segundo ele, se não fosse a pandemia, mobilizações já teriam sido feitas em frente às indústrias. “O setor fumageiro perdeu a referência de ser organizado. O produtor está pagando para produzir. Apenas quem repassa o custo é a empresa, que valoriza o produto recebido. As empresas precisam olhar o produtor como parceiro e melhorar o preço e o sistema de classificação”, argumentou.

Para evitar o desmonte do setor

Presidente do Sindicato Rural de Santa Cruz do Sul e coordenador regional da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Marco Antônio dos Santos apontou a negociação individual como problemática. A solução para afastar as dúvidas e frustrações com o declínio da renda dos produtores, segundo ele, é voltar a ter uma negociação por meio das entidades para evitar o desmonte do setor fumageiro. “Somos bastante cobrados, mas ficamos de mãos atadas dentro desse sistema. Mudanças são necessárias. Os produtores vão até certo ponto, senão acabam desistindo, ou quebrando”, comentou.

Há desânimo entre os produtores

Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Sobradinho, Delmar Waide planta tabaco há 31 anos em uma área de 6 hectares. São 90 mil pés. Segundo ele, nos últimos três anos, o custo aumentou e as indústrias compram com falta de critério nas classificações. “Cada empresa paga um preço. O clima desfavorável e o trabalho diário de um ano exigem bastante de quem produz. A classificação é muito ruim. Há um desânimo nos agricultores, alguns colocando estufas à venda. Os jovens têm abandonado as propriedades familiares”, ressaltou.

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