Anunciada no dia 18 de março, a intenção do Governo do Estado de privatizar a Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) vem gerando manifestações na Câmara de Santa Cruz do Sul. Entre outros argumentos, os vereadores criticam a falta de diálogo do governador Eduardo Leite com os municípios, que serão os principais afetados por uma possível venda da estatal. Além disso, eles alegam que os custos tendem a ficar mais altos e serão, de alguma forma, repassados ao consumidor.
O líder do governo na Câmara, Henrique Hermany (PP), foi um dos que se manifestaram contra a privatização. Ele salienta que não se trata de defender a companhia em si, especialmente quando se considera os problemas na execução do serviço em Santa Cruz, mas sim de garantir que a água continue sendo um bem público. Hermany explica que a Corsan é apenas a concessionária de um serviço que é do município e, dessa forma, não pode vender aquilo que não é de sua propriedade.
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Outra preocupação do vereador diz respeito à possível compra da estatal por empresas internacionais. “Então, nós podemos acabar entregando o nosso maior bem em mãos estrangeiras?”, questiona.
Hermany também menciona os custos. “O capital privado não vai assumir para fazer caridade. Eles farão os investimentos que têm de ser feitos, mas vão cobrar o custo do cidadão”, afirma. Na visão dele, esses investimentos deveriam ser públicos, com captação de recursos especificamente para essa finalidade.
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Também contrário à privatização, Gerson Trevisan (PSDB) questiona a necessidade de o Estado se desfazer do controle majoritário da companhia. “A Corsan dá lucro. Ninguém consegue me justificar que uma empresa que dá praticamente R$ 1,4 bilhão de lucro em quatro anos tenha de ser privatizada”, ressalta.
A exemplo de Hermany, Trevisan também demonstra preocupação com a elevação dos valores numa possível operação do serviço por uma empresa privada. “Tenho certeza que já na largada vai aumentar de 30% a 40% o preço da água, e por consequência, do esgoto. Em todos os lugares onde houve privatização, houve elevação”, completa.
Proponente da criação de uma Frente Parlamentar para discutir o tema, o vereador Alberto Heck (PT) critica também o projeto encaminhado pelo governo do Estado para extinguir a necessidade de plebiscito para privatização de estatais. “A criação de uma Frente Parlamentar vai representar a constituição de um espaço de representação política que vai ajudar a organizar a sociedade nesse processo”, explica.
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Opiniões
Kelly Moraes é favorável
Por meio de sua assessoria, a deputada estadual Kelly Moraes (PTB) reafirmou sua posição favorável à privatização da Corsan. O principal motivo apontado pela parlamentar é que o serviço prestado pela companhia não é satisfatório. Quando foi prefeita de Santa Cruz do Sul, Kelly chegou a lançar um edital de licitação para definir a empresa responsável pelos serviços de saneamento no município. O processo, no entanto, acabou não concluído e seu sucessor, Telmo Kirst, assinou contrato direto com a Corsan.
Famurs pede mais diálogo
Em nota, a Federação das Associações dos Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs) pediu mais diálogo ao Piratini. “Mais uma vez, o Governo do Estado falha com os municípios. Anuncia a privatização da Corsan, empresa lucrativa, sem qualquer diálogo prévio com os 317 municípios que possuem contratos com a empresa. Sem os municípios, não existe Corsan”, diz o texto do documento.
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