Nos últimos dias os relatos de autoridades de saúde, gestores hospitalares e profissionais que atuam na linha de frente contra a Covid-19 têm se tornado cada vez mais contundentes e dramáticos, expondo a situação caótica enfrentada por eles para tentar salvar a vida dos pacientes que desenvolvem quadros graves da doença. Nessa quinta-feira, 4, em entrevista à Rádio Gazeta FM 107,9, o médico infectologista Eduardo Sonda, responsável pelo controle de infecção do Hospital Ana Nery, afirmou que o município vive o pior momento no enfrentamento da pandemia. E frisou: cada vez mais, as vítimas são jovens.
“Nós estamos no pior momento da pandemia, e não vemos uma previsão de melhora tão breve, infelizmente. Na semana passada, nós tínhamos dez a 12 pacientes internados no Hospital Ana Nery em leitos clínicos e cinco pacientes em UTI. Em questão de uma semana temos 32 em leitos clínicos e as UTIs, que tiveram sua capacidade dobrada, estão lotadas. Não tem leito pra todo mundo”, enfatizou Sonda. Acrescentou que o Hospital Santa Cruz vive um contexto semelhante de esgotamento da capacidade de atendimento.
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O médico também destacou a mudança no perfil dos internados, que deixaram de ser somente pessoas idosas, obesas e que já possuíam comorbidades, e passaram a ser jovens. “Vimos que mudou, hoje são pacientes jovens. Temos pessoas de 21, 23, 30 ou 40 anos. Na UTI, a faixa etária também se reduziu para esse grupo de 40 e 50 anos, e são pacientes graves”, afirmou. De acordo com ele, o vírus não “escolhe” mais quem vai desenvolver complicações severas e, possivelmente, vá precisar de internação. Todas as pessoas estão suscetíveis e, por isso, é necessária a colaboração da população para ajudar a conter a disseminação do coronavírus.
Segundo Sonda, quando um paciente chega ao ponto de necessitar de tratamento intensivo e entubação, as possibilidades de sobrevivência caem drasticamente. “A chance de morte é muito grande. Tranquilamente falando, a cada dez pessoas que são entubadas, seis ou sete vão a óbito. E essas são estatísticas de todo o País, de todo o mundo”, ressaltou. “O processo tem que ser cortado lá na frente. Não adianta a gente ficar falando de abrir leitos de UTI para possibilitar mais internações e entubações, porque isso é sinal de que não estamos conseguindo combater o vírus.”
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Ouça a entrevista completa:
Ao comentar sobre a polêmica do tratamento precoce que vem sendo defendido por alguns médicos, Sonda fez uma analogia para exemplificar a situação. “O mais fácil é dar um remédio. O mais difícil é usar máscara, evitar aglomeração e se cuidar. No caso da obesidade, que é um fator de risco, o mais fácil é tentar tomar um remédio para emagrecer, enquanto cuidar a alimentação, fazer atividade física e se cuidar é sempre mais difícil”, comparou. “Com o coronavírus é a mesma coisa: o mais fácil é tomar um medicamento para se prevenir ou se curar. Eu gostaria, sinceramente, que funcionasse mesmo, porque facilitaria muito o nosso trabalho”, frisou.
Conforme o infectologista, que atua diariamente na linha de frente, ainda não existe nenhum tipo de tratamento que seja capaz de mudar o curso da doença. “Fazer um estudo científico que possa te beneficiar ou que tenha o resultado que se queira é muito fácil. Já fazer um estudo completo e que respeite todos os fundamentos da ciência é mais complicado, e não é qualquer um que faz”, disse. “Nós cansamos de ver pacientes que vêm consultar ou internam que tomam todas essas medicações e não melhoram, porque realmente não melhora mesmo.”
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