A Polícia Civil avança para desvendar as circunstâncias que levaram um rapaz de 23 anos a assassinar a família na localidade de Rincão dos Tocos, interior de Tunas. A principal suspeita é de que o triplo homicídio, que chocou a Região Centro-Serra, tenha sido motivado pelo fato de o autor não aceitar dividir a herança com a irmã mais nova. O caso aconteceu no início da madrugada da última sexta-feira.
Tratado inicialmente como acidental, um incêndio na propriedade da família Santos teria vitimado Adão Antunes dos Santos, de 66 anos, Marlene Schoeninger, de 43, e Jamile Schoeninger dos Santos, de 1 ano e 4 meses. No entanto, perícias realizadas no local levantaram hipóteses sobre uma possível ação criminosa, pois foram encontrados resíduos de óleo diesel na casa.
A situação veio à tona durante a manhã, quando a Polícia Civil, a Brigada Militar e o Instituto Geral de Perícias (IGP) realizaram os primeiros levantamentos na cena do crime, que fica a cerca de 20 quilômetros do Centro de Tunas, cidade com 4,3 mil habitantes. O filho do casal e irmão da bebê, Jaime Schoeninger dos Santos, de 23 anos, acompanhou o trabalho da polícia no local.
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Na ocasião, o comportamento do jovem, que não demonstrava comoção, causou estranheza aos policiais. Paralelo a isso, a Delegacia de Polícia de Arroio do Tigre localizou testemunhas que informaram que o jovem teria deixado o local do crime e ido para uma boate, no município de Espumoso – a cerca de 60 quilômetros de Tunas –, onde teria gasto cerca de R$ 2 mil.
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A suspeita é de que ele teria ido ao local para forjar um álibi. “Ele chegou na casa noturna por volta das 3h30 e estava exalando cheiro de óleo diesel. Ainda fez o pernoite no local e utilizou o serviço de uma garota de programa. Isso, antes de acionar a polícia pedindo socorro e alegando que a casa de seus pais estava em chamas na manhã”, comentou a delegada Alessandra Xavier, que conduz o caso.
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A questão da herança surgiu como possível motivo para o crime a partir do momento em que os investigadores descobriram que o jovem não aceitava o fato de que, com o nascimento da irmã mais nova, os bens da família seriam passados para o nome dela. Os pais teriam tomado tal decisão porque o rapaz não estaria ajudando no trabalho nas lavouras. A hipótese de mais pessoas terem participado do crime não está descartada, mas é improvável, de acordo com a delegada Alessandra Xavier.
Prisão durante o enterro
A Polícia Civil de Arroio do Tigre prendeu Jaime Schoeninger dos Santos na manhã de domingo, quando ele chegava, de táxi, para o enterro dos familiares. De acordo com a delegada, em depoimento, o jovem de 23 anos confessou o crime. Porém, relatou que agiu em legítima defesa após uma desavença com o pai.
“Ele disse que acabaram discutindo pelo fato de o pai tê-lo proibido de ir na boate aquele dia. Que o pai teria efetuado disparos contra ele e ele revidou, acertando dois tiros de revólver calibre 38. Afirmou ainda que, depois de matá-lo, colocou óleo diesel no corpo do pai e ateou fogo”, contou a delegada.
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Após a ação criminosa, as chamas teriam se espalhado e atingido toda a residência, que fica em uma área rural, distante de outras casas. A mãe e a irmã morreram abraçadas no incêndio, trancadas no banheiro.
“No depoimento, ele fez um choro teatral, dizendo que não queria matar a mãe e a irmã, que elas ouviram os disparos e se trancaram no banheiro, mas sabemos que ele não fez nenhum esforço para salvá-las, visto que elas estavam trancadas e o acusado nem se deu trabalho de socorrê-las. E depois ainda foi para a boate, em uma atitude de completa frieza”, relatou a delegada.
Testemunha revela seguro no nome do pai
Na tarde dessa quarta-feira, 17, uma outra testemunha foi ouvida pelos investigadores. De acordo com a delegada Alessandra Xavier, essa pessoa, que é parente da família, revelou uma nova possibilidade de motivação para o triplo homicídio.
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Segundo ela, o pai já havia adiantado a parte da herança que cabia ao filho; no entanto, Jaime começou a gastar o dinheiro em festas e noitadas, fato que acabou motivando brigas entre os dois. “Outra informação que chegou foi que o autor teria feito um seguro de vida de R$ 50 mil para o caso da morte do pai, algo que vamos ter que confirmar com os bancos”, complementou a delegada.
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Além disso, o suspeito teria retirado documentos referentes a bens da família da casa que foi alvo do incêndio e os guardado na residência de um parente, onde também foram deixadas roupas dele – ainda com os cabides. “São fatos que levantam suspeitas. Como deu tempo de tirar esses itens da casa antes de acontecer o incêndio?”, questiona a delegada.
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Atualmente, Jaime Schoeninger dos Santos cumpre prisão temporária de 30 dias no Presídio Estadual de Sobradinho. Armas de fogo e facões foram apreendidos pelos policiais na cena do crime, bem como as roupas utilizadas pelo autor, que estavam exalando cheiro de óleo diesel. A investigação agora aguarda provas técnicas para identificar se o pai foi morto com os supostos disparos efetuados por Jaime ou se foi pelas chamas, como a mãe e a irmã.
Rastros de diesel encontrados do lado de fora da casa também sugerem que o suspeito colocou fogo em toda a residência, e não apenas no corpo do pai, como alegado por Jaime. “São informações que iremos confirmar. Ainda aguardamos os laudos da perícias e temos mais depoimentos por ouvir, mas já temos elementos suficientes para solicitar uma prisão preventiva ao Judiciário”, finalizou Alessandra Xavier.