Um ano após o nascimento dos primeiros bebês de 2020 na região, a Gazeta do Sul fez contato com as famílias para saber como foi este primeiro ano de vida dos pequenos, pautado pela pandemia. A chegada de um bebê, que costuma ser motivo de muita alegria, desta vez também trouxe apreensão para os pais, em meio à crise sanitária e ao risco de contaminação pelo coronavírus.
Os cuidados para preservar a saúde da criança tiveram que ser redobrados, e o contato físico e social ficou restrito. Os nenês de 2020 tiveram que se acostumar a crescer longe da companhia constante dos avós, que, por serem do grupo de risco, precisaram se resguardar. Também ficaram longe do convívio e integração com os primos e outras crianças.
As informações sobre seu estado de saúde e desenvolvimento foram transmitidas aos parentes, na maioria das vezes, por telefone ou chamadas de vídeo. Pouca coisa aconteceu no presencial. Os passeios tiveram de ser restritos a consultas médicas e vacinas, raramente para o lazer. E, para garantir o desenvolvimento pleno dos seus filhos nesses primeiros meses de vida, os pais que passaram pela experiência contam como se sentiram e o que fizeram.
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Muita preocupação e mais contato com os filhos
Em março, pouco mais de dois meses após o nascimento de Heloísa, a primeira bebê em solo santa-cruzense em 2020, casos de Covid-19 começaram a ser registrados no País e a pandemia foi decretada oficialmente pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Dali em diante, os números de mortes e contaminados tomaram proporções gigantescas e medidas sanitárias precisaram ser impostas na tentativa de frear o coronavírus.
Enfim, um cenário totalmente diferente daquilo que a mãe da pequena Heloísa, a operadora de produção Fabiana Azevedo Renner, de 26 anos, moradora de Cerro Alegre Baixo, interior de Santa Cruz do Sul, imaginou para o ano do nascimento da filha. Foram diversas restrições, sem poder sair de casa ou receber visitas. E o pior: a falta de ajuda dos avós da bebê, os quais, por estarem no grupo de risco, tiveram que se resguardar e acompanhar tudo a distância.
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Já pais de dois meninos – Saymon, de 9, e Brayan, de 7 anos –, Fabiana e o marido Fábio Isaías Azevedo Bastos, 35 anos, pintor automotivo, planejaram a chegada da filha. Nascida de parto normal, no dia 1º de janeiro, às 10h36, na maternidade do Hospital Santa Cruz, a menina vestida com uma roupa vermelha e a mãe ilustraram a capa da Gazeta do Sul em 2 de janeiro de 2020. “Nós estávamos muito contentes. Era o nascimento da nossa menina, que foi tão esperada. O que não imaginávamos era que uma pandemia estaria por vir e os planos tivessem que sofrer alterações”, conta a mãe.
A família teve de se adaptar e a mãe, que antes trabalhava fora, passou a ficar em tempo integral com as crianças, em casa. O convívio com outras pessoas também ficou restrito, em especial entre a neta e a avó paterna, de 70 anos, que reside em Rio Pardo. Além de ser do grupo de risco, a idosa tem problemas de saúde e teve de se resguardar. “Minha sogra passou um bom tempo sem visitar a Heloísa. Tínhamos medo, pois não sabíamos como a Covid-19 agia em crianças tão novas”, conta a mãe.
“Foi um ano de dificuldades, em que a gente teve de se adaptar. Mas, mesmo com as coisas ruins que aconteceram, posso dizer que foi um ano bom, pelo fato de estar mais tempo com os meus filhos, de vê-los crescendo e se desenvolvendo. Em especial com a Heloísa, que foi muito diferente dos meninos. Eles tiveram que ir aos 4 meses para a creche porque eu estava trabalhando, e muita coisa eu não consegui acompanhar”, relata.
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Para 2021, a mãe espera que a situação melhore e a filha, que já está matriculada em uma escola de educação infantil, possa desfrutar da convivência com outras crianças.
“Mesmo com as coisas ruins que aconteceram, posso dizer que foi um ano bom, pelo fato de estar mais tempo com os meus filhos, de vê-los crescendo e se desenvolvendo.”
Fabiana Azevedo Renner – Mãe da Heloísa
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Visitas restritas: notícias do bebê, apenas pelo telefone
Pedro Henrique veio ao mundo como a mãe queria: saudável. Ainda sem conhecer alguns de seus parentes, o primeiro bebê de 2020 no Vale do Rio Pardo curte o colo dos pais e avós. Com as visitas restritas apenas aos familiares mais chegados, o jeito foi improvisar e fazer contatos com os demais somente a distância. Segundo a mãe, Alcione Silva dos Santos, de 21 anos, a rotina com um filho pequeno em tempos de pandemia foi muito diferente daquela que ela planejou.
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“As visitações ao bebê logo após o nascimento transcorreram dentro da normalidade. Contudo, com a chegada da pandemia em março e o início das restrições, o contato com alguns familiares e padrinhos ficou mais a distância”, conta. Os pais adaptaram a rotina dos filhos para que eles não sintam a tensão do isolamento social e da pandemia. “No início, ficamos em casa, sem sair, por pelo menos quatro meses. É pelo telefone que as informações sobre o crescimento de Pedro Henrique são repassadas. O online é bom, mas não é igual a estar todo mundo junto, conversando e brincando, pegando ele no colo. Espero que tudo isso passe logo”, afirma Alcione.
No dia do nascimento do filho, Alcione e o marido, Ramiro Rodrigues Moraes, de 36 anos, que são agricultores e residem no Bairro Dona Leopoldina, em Vera Cruz, seguiam com o filho dela, Alessandro, de 6 anos, para passar o réveillon com amigos em Venâncio Aires. Logo após as primeiras contrações, ela foi atendida no Hospital São Sebastião Mártir. Por volta de 1h37 de 1º de janeiro, nasceu Pedro Henrique da Silva Moraes, de parto normal, com 3,335 quilos e 39 centímetros.
Para Alcione, a falta de contato físico e social desde o nascimento do filho foi o que mais impactou no período. Impossibilitado de frequentar uma creche, o bebê fica aos cuidados da avó para que a mãe possa trabalhar. A pandemia também inviabilizou a celebração de Natal em família. “Fiquei muito triste, porque Natal é sempre união, integração e toda a família junto. Este ano, tivemos que fazer apenas com o pessoal lá de casa e meus sogros. O mesmo também aconteceu em outras datas comemorativas do ano”, conta. Apesar das várias preocupações, ela agradece pela vida dos filhos. “Estamos todos bem e não há alegria maior que a de ter um filho”, completa.
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Saúde é a prioridade
A paternidade e a maternidade são fases repletas de desafios em um cenário normal. Em uma crise sanitária, então, as preocupações são redobradas e tornar-se responsável por uma criança é desafiador. Mas é também um presente.
Um desejo em comum de quem deu à luz no ano da pandemia é que os seus filhos tenham saúde. Apesar de todos os cuidados, as mães não escondem o medo de criá-los em um mundo com novas e incertas regras, como o atual. Elas querem proteger o máximo seus pequenos e, por enquanto, preferem não projetar como será a realidade a longo prazo.
“O futuro ainda é incerto. A ideia é esperar a vacina, mas não sei quando isso vai acontecer. Certamente minha filha vai ouvir falar muito do ano de seu nascimento, das restrições, do uso de máscaras e todas as outras coisas que aconteceram. O mundo mudou, e as pessoas precisam se adaptar a essa nova realidade. Eu só quero que ela tenha muita saúde, o resto a gente supera”, afirma Fabiana Renner.
Segundo ela, desde que a pandemia surgiu, todas as necessidades que exigiram sair de casa foram atendidas pelo marido. “É ele quem vai ao supermercado, à farmácia quando precisa e também faz todas as correrias. E como é praticamente só ele quem sai de casa, quando chega do trabalho, antes mesmo de pegar a bebê no colo, já toma banho. Usamos muito álcool gel e mantemos os cuidados de lavar as mãos com bastante frequência, quase não recebemos visitas”, ressalta.
“É difícil, a gente fica apreensivo demais. Tomamos todo os cuidados, pois não sabemos como o vírus poderá se comportar no organismo da nossa pequena.”
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Mudança de vida
A gravidez é um marco de profunda transformação na vida. E quem recebeu a notícia em algum momento do ano passado não poderia imaginar o cenário que o filho encontraria no ano de seu nascimento. O afastamento físico dos familiares e as restrições ao apoio presencial dos avós, pessoas do grupo de risco, marcaram a vida das famílias de Heloísa e de Pedro Henrique, além da mudança inevitável na rotina. Sem ter com quem deixar os filhos, Alcione, que é agricultora, optou pelos cuidados da sua mãe. É a avó quem cuida do pequeno Pedro para que ela possa ir à lavoura. Já Fabiana, que trabalhou por um longo período como operadora de produção, teve de ficar em casa e se dedicar em tempo integral às crianças.
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Aniversário só para os mais próximos
Para muitas pessoas, o aniversário está entre as comemorações mais aguardadas do ano. Não importa se envolve uma festividade simples: a data merece toda atenção, cuidado e carinho. E é dessa forma que os pais de Heloísa e de Pedro Henrique planejaram a primeira celebração da vida de seus bebês no período de isolamento – algo simples, em casa, apenas com a presença dos avós e de um ou outro familiar mais próximo. A festa organizada para Pedro Henrique estava sendo planejada há meses, mas a chegada do vírus acabou mudando tudo.
“Não será fácil pra gente esse momento, em especial para cumprir as expectativas que foram criadas desde a gravidez. A data é tão importante, é um momento de comemorar tudo aquilo que a gente passou neste primeiro ano, as alegrias e as dificuldades. Não tem como passar em branco. Fico muito triste, mas infelizmente terá que ser assim, apenas com os familiares mais próximos”, conta Alcione.
Na casa de Fabiana, a situação é a mesma. No entanto, como a família já havia planejado fazer uma comemoração mais simples neste primeiro aniversário, a decepção foi menor. “Entendemos que no primeiro ano, a criança não entende muito bem as coisas e não aproveita a festa. Nossa ideia é fazer algo maior quando a Heloísa completar 2 anos”, afirma Fabiana.
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