O resultado das eleições municipais de 2020 acabou gerando um fato curioso na pequena comunidade de Pinhal Novo, no interior de Gramado Xavier. Nela, dois irmãos que estão acostumados a disputar uma das nove vagas do Legislativo se elegeram com a mesma quantidade de votos cada um. Antônio Fischer (MDB), o Tonho, candidato pela sexta vez, fez 131 votos. O irmão Lauri José Fischer (PSB), concorrendo pela terceira vez ao cargo, assegurou a cadeira por iguais 131 votos. Eles dividiram a preferência do eleitorado e da própria família.
Filhos de uma prole de cinco, com três irmãs mais velhas, os Fischer são bastante conhecidos no município. Também pudera: Tonho entra agora para o quinto mandato de vereador. Ele concorreu seis vezes, em uma delas não foi eleito. “Esta é a terceira vez que a gente entra junto, mas com a mesma quantidade de votos é a primeira. Isso é inédito”, afirma Tonho.
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Ele tem 60 anos e é o “bebê” da casa. Lauri tem 63. A diferença de idade entre os dois é pequena e, desde a época de criança, os “guris” são muito unidos. Mas isso longe das urnas. Para vencer a eleição, cada qual teve a sua estratégia. “Cada um vai atrás dos seus votos. Na nossa comunidade, no centro e com os familiares”, diz Lauri. Mas como se dividem na preferência das irmãs, que são três? Se não há como repartir um voto, como saber quem votou em quem, nesse caso? “Só duas votam aqui”, tranquiliza Tonho, em meio aos risos na roda de família.
Durante a campanha, mais curta e restrita por causa da pandemia, cada um seguiu com sua agenda. Tonho até começou depois. Um problema de saúde colocou em xeque a sua sexta disputa à Câmara. “Eu estava com um problema sério nos rins, era dúvida se poderia concorrer. Melhorei, fiz a campanha e consegui. A gente fez algumas visitas aos eleitores, sempre tomando todos os cuidados”, explicou o caçula.
Já com relação ao controle de votos, cada um sabe como se faz. Em eleições ocorridas em pequenos colégios eleitorais, como em Gramado Xavier, todo mundo se conhece. Após cada visita de campanha, já se sai com a contabilidade no caderninho e dificilmente alguém se engana com o resultado da urna. “A gente faz votos em várias partes do município. Nossa família é conhecida, é uma das melhores”, garante Tonho, de novo, arrancando risos dos parentes.
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A rivalidade entre os dois parece ser apenas na urna e em campo. Tonho é gremista, e Lauri – que não tem apelido porque o nome é curto – torce pelo Colorado. “Mas na Câmara, quando o projeto é bom, não tem oposição. A gente vota junto, em favor do nosso município, que é pequeno e precisa se desenvolver”, destaca Lauri. Segundo ele, quando o assunto é o bem-estar dos gramado-xavierenses, o discurso é um só, de ambos os lados.
As propostas dos Fischer
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Para a nova legislatura, Lauri e Tonho já têm projetos distintos para desenvolver Gramado Xavier. Tonho explica que, diante da característica rural do município, falta um serviço de máquinas mais próximo do produtor. “A Prefeitura até tem o parque de máquinas, mas ele não é suficiente. Eu creio que seja necessário contratar um serviço terceirizado para ajudar nessa demanda”, avalia.
Já Lauri pensa em atrair investimentos para o município. Na proposta dele, a meta é sugerir ao Executivo que adquira uma área de terras para criação de um espaço destinado à instalação de empresas, um distrito industrial. “Nossa economia é pequena, precisamos diversificar e trabalhar para atrair o investimento para Gramado Xavier”, propõe.
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PODE SER O ENCERRAMENTO DA CAMINHADA
Lauri e Tonho já foram sócios de uma empresa de ônibus. O serviço era muito solicitado no passado, pois a família detinha 40 quilômetros de concessão de linhas, interligando as comunidades do interior de Gramado Xavier. “Mas foi ficando tão difícil, com tão poucos passageiros, que a gente até desistiu”, confessa Tonho.
Ambos são produtores de tabaco. Lauri ajuda a transportar a produção dos vizinhos para as indústrias localizadas em Santa Cruz do Sul. A atividade primária é a principal fonte de renda para as duas famílias, até porque o rendimento de vereador em Gramado Xavier é bem modesto, quando comparado com cidades de maior porte, cerca de R$ 2.160,00 líquidos – e sem assessor. “Acho que até poderia ser menos. A gente não está na Câmara por dinheiro, estamos pelo desenvolvimento do município”, garante Lauri.
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Entrando para o quinto mandato, Tonho admite que essa eleição pode ter sido a última em que ele concorreu. A incerteza que começou antes da campanha, com a doença nos rins, talvez tenha feito ele refletir. Lauri, o mais velho, acompanha o pensamento do irmão. “Nós já demos a nossa contribuição. De repente, na próxima eleição, será a vez de outros continuarem”, antecipa.
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