Filha daquele que é considerado por muitos o maior músico da história do Rio Grande do Sul, Líria Teixeira é dona de uma rica história de envolvimento e carinho com seu pai Teixeirinha, que acompanhou em muitos momentos na longa carreira de sucesso. Sua mãe, Maria Ezi, já falecida, foi a primeira mulher do músico tradicionalista, ainda na época em que ele não era famoso.
Em suas andanças acompanhando o pai, veio a Santa Cruz do Sul no fim de 1966 passar o réveillon na casa de Zoraida, casada com Teixeirinha em cerimônia na Catedral São João Batista no ano de 1957. Hoje com 69 anos, Líria pede ajuda. Com dificuldades financeiras, vivendo de favor na casa de amigos e parentes, foi incentivada pelo filho Victor e pela nora Karen a criar uma vaquinha online, com o objetivo de angariar recursos para ter seu lar e, como ela diz, “resgatar a individualidade”.
LEIA TAMBÉM: ‘Velho casarão, já quase tapera’: conheça a história que inspirou Teixeirinha
Publicidade
Ela explicou que sua aposentadoria hoje é insuficiente para o sustento ou para alugar um imóvel, e que a herança deixada por seu pai se perdeu em negócios malfeitos e dívidas. Segundo Líria, Teixeirinha não deixou testamento, mas uma fita gravada dizendo que os filhos deveriam dividir de forma igual, sem que ele tivesse que escolher para quem deveriam ir seus bens, com o medo de favorecer um ou outro.
“Eu recebi um imóvel em 1996. O inventário do meu pai durou dez anos. O resultado foi que acabei perdendo este imóvel, que foi a leilão em virtude de dívidas de IPTU e de condomínio”, disse Líria em entrevista à Gazeta do Sul. Após morar em São Paulo e no Paraná, hoje ela vive com uma tia de 87 anos, no município de Taquara.
O marido Luiz Carlos faleceu em 2015, vítima de um problema no coração, mesmo ano em que sua mãe Maria Ezi também morreu. Não bastassem a falta dos entes queridos e a perda da herança deixada por seu pai, Líria Teixeira também teve negada parte do cálculo para sua aposentadoria. “Acusaram no INSS que de 1994 para trás não seria contado como valor, apenas o tempo. Com isso, fiquei sem nada, morando um pouco na casa de cada um, bem constrangida. Afinal, todos nós temos nossas manias e estou sempre tentando me adaptar na casa dos outros. Não tenho condições financeiras, por isso meu filho e nora fizeram essa vaquinha online.”
Publicidade
O objetivo da vaquinha online é arrecadar R$ 80 mil. Até o momento, pouco mais de R$ 3 mil foram coletados. “Esse valor vai ser destinado inteiramente para comprar um imóvel. Algo pequeno, para que eu possa resgatar minha individualidade e não viver mais de favor na casa de ninguém”, complementou Líria. A filha de Teixeirinha não possui direitos autorais sobre as músicas do pai. De acordo com ela, esses direitos acabaram ficando com cinco dos nove filhos, entre os quais ela não foi incluída.
Quem quiser auxiliar Líria Teixeira com algum valor, basta acessar a vaquinha online. Mais informações podem ser obtidas por WhatsApp pelo telefone (51) 98542 2542.
LEIA TAMBÉM: Reunião na Unisc debate prêmio em homenagem a Teixeirinha
Publicidade
Réveillon em Santa Cruz quase vira tragédia para a família
Era 31 de dezembro de 1966. Teixeirinha havia trazido Líria e outros filhos para passar o réveillon na casa dos pais de Zoraida, em Santa Cruz do Sul. Uma das irmãs de Líria, Sirley, comentou que as duas deveriam ir ao salão de beleza se arrumar para a virada. O motorista Heitor, contratado pelo pai, levou as jovens para um salão no Centro, na Rural Willys “saia e blusa”, branca e verde, da família.
A irmã de Zoraida, Carmem, foi junto com as duas meninas. No caminho, porém, quase que o momento de êxtase entre as irmãs e a tia se transforma em tragédia para a família Teixeira. Heitor bateu a Rural Willys em um poste de concreto armado, no Centro. O impacto feriu os ocupantes. “Eu fui a escolhida para ser a mais machucada. Vi que ele iria bater, coloquei a mão nos meus olhos e não lembro de mais nada, só um barulho. Acordei toda ensanguentada dentro do carro com eles tentando me tirar de lá”, relembrou Líria.
Publicidade
Com 16 anos na época, a jovem quebrou uma perna e foi levada ao Hospital Santa Cruz. Teixeirinha foi avisado e foi ao encontro da filha. “Até hoje lembro daquele beijo que ele me deu, bem estalado, na bochecha.” Os médicos queriam que Líria ficasse com um peso na perna, em uma cama, para o osso voltar ao lugar. A única ambulância da casa de saúde já havia levado para Porto Alegre uma outra mulher que estava em coma, após um acidente anterior ao da família Teixeira.
Foi então que chamaram uma de Rio Pardo. No caminho para Santa Cruz, porém, o veículo acabou estragando e não conseguiu chegar ao Hospital Santa Cruz. Mesmo cansado após shows nas noites anteriores em cidades próximas a Santa Cruz, Teixeirinha adaptou seu Simca Chambord Tufão azul-turquesa para levar a filha a Porto Alegre.
“O meu pai estava louco de sono, pois havia feito dois shows na região e viajado durante a madrugada. Não tinha ambulância para me levar a Porto Alegre, então ele preparou o carro e fui no banco de trás. Meu tio acabou levando os outros familiares em um outro veículo, indo atrás da gente”, diz Líria. “Sempre contava que tinha que buzinar para o pai acordar, porque ele parecia estar dormindo no volante, o carro ‘dançava’ na estrada. Passamos a virada do ano-novo na estrada. Entramos no antigo Hospital Kiefer à 1 hora.” Ela ficou 40 dias na casa de saúde e andou de muletas por um ano. “É uma história que não tem como esquecer.”
Publicidade
LEIA TAMBÉM: O cemitério dos farrapos ainda guarda mistérios em Novo Cabrais