Passamos por um período de grande instabilidade. Nesse contexto, problemas antigos podem tomar proporções maiores, embalados pelo incremento do estresse. Muitos adultos já vinham perdidos entre os seus valores e os questionamentos do cotidiano. Pais e professores se desdobram na tarefa de educar crianças e adolescentes em meio às inúmeras mudanças. Todos nos deparamos com regras, limites, ordens, e somos testados diariamente.
Mas de que tipo de limites estamos falando? Os dicionários definem limitar como demarcar, estipular, formar fronteiras. Convido a pensar sobre o limite que significa parar para continuar. Como o carro que para na sinaleira para se manter seguro e depois seguir seu caminho. Nem sempre queremos parar frente a um limite, o que independe da idade. Lembramos automaticamente das crianças e adolescentes quando se fala em limites, porém essas barreiras são necessárias para todos, para vivermos em harmonia na sociedade.
Quando ninguém tem certeza de nada, parece ainda mais difícil estipular limites. Sobretudo, todos precisamos, vez ou outra, que alguém se importe conosco e nos mostre quando precisamos parar. Desde pequenos necessitamos que os adultos próximos definam as fronteiras que nos limitam a ação. Na adolescência, tais barreiras podem se tornar mais flexíveis, mas ainda são muito necessárias. Quem ama, diz o não quando a criança ou o adolescente tem que parar. Não existem receitas, mas coerência e bom senso norteiam ações imbuídas de interesse e amor. Estabelecer limites é uma atitude difícil, com alto preço emocional, no entanto alicerçada em afeto genuíno. Aos poucos o regramento vai sendo internalizado e os limites externos passam a ser menos necessários. Será?
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Parece cada vez mais difícil respeitar os limites. São filhos desobedientes, alunos que desacatam, adultos transgressores. É na família que aprendemos as fronteiras, a autoridade, o que transmite segurança. Dizer sim é fácil. Complicado é dizer o não. Muitas vezes o sim vem acompanhado de prazer, enquanto o não representa o dever de educar. Pais cansados ou pouco disponíveis, tendem a ceder frente à insistência dos filhos. Pais preocupados em serem amigos, acabam focando em não desfazer sua imagem. Sendo assim, apreciam dar bons presentes, cedem com mais frequência, prezando pela manutenção da “amizade”. Estabelecer limites significa amar os filhos. Muitas vezes os pais ficam confusos, inseguros, sem saber como orientar o filho, o que proibir e o que permitir. Não sejamos donos da verdade. Será preciso conversar com o parceiro para definir ações. Assim como pode ser útil conversar com os filhos maiores a respeito das dúvidas e tomar decisões compartilhadas, que unem e promovem crescimento. A família é um guia, um modelo para o desenvolvimento dos filhos. Aliás, todo adulto serve de modelo para os mais jovens.
Então cabe observar como nós, adultos, estamos agindo e que modelos estamos apresentando aos infantes e adolescentes. Representamos a maturidade e o bom senso. Temos muita responsabilidade. Se o pai bate na mãe, ensina que o mais forte pode agredir o mais fraco. Quando a mãe orienta a mentir a idade para baratear o ingresso, ensina a burlar regras. Quem devolve o troco errado, mostra a importância da verdade. Ceder o lugar para o idoso promove a cultivo da solidariedade. A vida passa na velocidade do instante. É aqui e agora que decido atender os limites ou desconsiderá-los. Um instante pode ser decisivo. Fique atento, tome decisões acertadas. Seguir as regras organiza as ações. Não devemos ser rígidos, mas também não flexíveis demais. A quebra do autoritarismo das gerações passadas pode ter desembocado numa maior permissividade. Não é à toa que temos crianças, adolescentes, adultos e idosos com dificuldade de ceder a certos limites. Precisamos repensar nossas ações para fornecer aos mais jovens modelos mais coerentes, que promovam o olhar coletivo, o acato às figuras de autoridade, o atendimento das normas de convívio social.
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