Há quatro meses, a reportagem da Gazeta do Sul madrugou em uma propriedade rural de Linha João Alves, no interior de Santa Cruz do Sul, para acompanhar uma tradição centenária. O plantio da Jahres Kartoffel, a batata do ano todo, foi feito conforme os antigos, renovando a crença na proteção do santo contra as intempéries do clima.
E essa sexta-feira, 30, começou agitada na propriedade rural da família Weber. A matriarca, dona Rosa, estava dividida entre a tarefa de despontar as plantas de tabaco, que se desenvolviam bem na lavoura, e a colheita da Jahres Kartoffel, plantada em 24 de junho passado. As linhas que haviam sido semeadas na propriedade de Nestor Hentschke, na divisa entre as duas propriedades, estavam cheias de batatinhas. “Deu o que a gente esperava. Em média, meio quilo de batatinha por muda. Rendeu muito bem”, avaliou Rosa.
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A produção, que será dividida entre os Weber e os Hentschke, deve render meia tonelada de uma batatinha que é diferente. Ela dura o ano todo, desde que bem-conservada, e é ideal para servir de ingrediente para salada de batatas e como atriz principal do purê. Ela tem consistência diferente da batata inglesa. “Cozinha super-rápido. Sete minutos é o tempo ideal para ficar pronta”, acrescenta dona Rosa, que tirara uma prova antes da colheita, iniciada nessa sexta-feira.
Além da tradição de plantar as batatas no dia certo, dona Rosa e seu Nestor contaram com a tecnologia. Usaram fertilizante na terra e mantiveram as linhas bem limpas, para que as Jahres Kartoffel pudessem crescer. Na hora de colher, é preciso cuidado. Quem vai com muita força na enxada pode partir a batata ao meio. “É preciso pegar de lado, para virar um pouco a terra, e depois colocar as mãos mesmo”, ensina a produtora. Uma por uma, as batatinhas vão saindo para fora da terra, embaixo da rama.
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As menores ficam para a semente; são as que serão plantadas no próximo dia 24 de junho. As maiores vão para o galpão. Guardar batatinha durante um ano exige também um cuidado extra. Não dá para lavá-la, para tirar a terra, e não é possível guardá-la direto em uma caixa ou na geladeira, por exemplo.
A Jahres Kartoffel precisa ficar um tempo acomodada no chão, coberta por um saco de tecido; depois, ela pode ir para outro recipiente, abrigada do calor e da umidade, mas sem a necessidade de refrigeração. “Se a gente não faz assim, ela fica verde, e quando fica dessa cor não pode ser consumida”, acrescenta a produtora rural.
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Uma tradição secular que brota na lavoura
Dona Rosa revela que o plantio da Jahres Kartoffel, acompanhado pela Gazeta do Sul nos últimos quatro meses, reacendeu uma tradição quase esquecida. Segundo ela, os Weber teriam que ter semeado uma área dez vezes maior para atender a tantos pedidos por sementes. “Até pessoas de outros Estados, que viram a reportagem, pediram sementes para cultivar a batatinha no próximo dia de São João”, disse.
A lenda do cultivo da batata do ano reza que é preciso plantá-la antes do nascer do sol do dia 24 de junho, Dia de São João. A semeadura nesse dia confere às batatinhas as características de sabor diferenciado e a imunidade contra o clima.
A safra plantada em Linha João Alves resistiu a duas grandes geadas e 500 milímetros de chuva, ambas condições adversas ao cultivo do tubérculo. “Nós usamos adubo e cuidamos da plantação. Até ficamos preocupados com a produção, porque houve muita chuva durante o inverno”, salientou dona Rosa.
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Seguindo a tradição, agora as batatinhas de menor tamanho serão separadas para se transformarem nas sementes do próximo plantio. “E nós estaremos de novo, no próximo Dia de São João, para cultivar mais uma lavoura de Jahres Kartoffel”, garantiu a produtora.
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