Educação

70 anos da Casa da Criança: a história por trás da vontade de acolher

A Associação de Educação Familiar e Social do Rio Grande do Sul (Casa da Criança), que é reconhecida na comunidade santa-cruzense pela excelência no atendimento à primeira infância, comemora neste sábado 70 anos de existência. Fundada em 15 de julho de 1953, durante 64 anos foi mantida e administrada pelas Irmãs Filhas do Coração de Maria – uma congregação religiosa fundada em 1790, na França, que passou a desenvolver seu trabalho no Brasil em 1937.

Mas a história da casa começou em 1949, quando o terreno onde ela está localizada, que era de propriedade da família de Carlos Baumhardt, foi vendido à Legião Brasileira de Assistência (LBA) para instalar uma creche que atendesse os filhos das operárias de uma fábrica de cigarros.

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Em 1952, ano em que começou a construção da casa, o então presidente da LBA em Santa Cruz do Sul, Carlos Hoppe, e o padre jesuíta Felipe Sauer, que era pároco da Catedral São João Batista, solicitaram à direção da Associação de Educação Familiar e Social do Rio Grande do Sul (AEFS/RS), em Porto Alegre, a colaboração para a parte administrativa da futura Casa da Criança. Pouco tempo depois, a presidente dessa associação, Edwig Von Blarer, veio ao município para conhecer a casa e dar os primeiros passos para a realização dos trabalhos na creche.

No ano seguinte, foi firmado um convênio entre a LBA e a AEFS, no qual a LBA concedeu o prédio e, como cooperação, um auxílio mensal para a associação. Esta comprometeu-se a administrar e a manter a Casa da Criança, promovendo a consecução de recursos do governo de particulares.

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Em 15 de julho de 1953, as primeiras funcionárias, as irmãs Filhas do Coração de Maria, Regina Anton e Lucia Swaroski, passaram a residir na Casa da Criança. Nesse mesmo dia, receberam as primeiras três crianças para o Jardim de Infância. Em menos de um mês já eram 24 crianças, entre jardim e maternal.
Não foi um início fácil. Durante algum tempo, as funcionárias precisaram improvisar móveis com caixotes de madeira e tábuas. Em um fogão também improvisado, elas aqueciam as refeições recebidas do Hospital Santa Cruz.

Mesmo com a deficiência de equipamentos, a partir de outubro daquele ano, a diretoria da Casa da Criança, com o objetivo de facilitar o trabalho das mães operárias, aceitou os filhos destas para o turno integral. Assim seguiu a caminhada da instituição que desde sempre cuidou das crianças.

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Participação fundamental

A Irmã Jurema Claudete de Oliveira Ramos, 72 anos, conheceu a Casa quando tinha em torno de 25 anos. Na época, chegou à entidade para trabalhar nos cuidados diários das crianças. Ali conheceu melhor a congregação e teve seu interesse despertado para a vida religiosa. Por isso, fez sua formação religiosa em Curitiba, no Paraná, voltando depois da conclusão a Santa Cruz e para o trabalho na Casa, ao qual se dedicou até 2017. Comprometida com instituição, foi sua diretora por cerca de 20 anos.

Ela conta que a decisão de transferir a administração para um novo grupo de pessoas foi muito elaborada, pensando no bem maior que seria a continuidade desse legado. “A congregação, já com poucos membros, não tinha mais a mesma estrutura para seguir nesse trabalho. Fomos bem, mas sentíamos que era hora de passar a administração da Casa para outro grupo, que pudesse seguir nosso projeto e agregasse modernidade ao que já se havia construído”. Hoje, seis anos após a transferência, Jurema diz que se sente grata pela missão realizada junto às crianças e suas famílias.

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Quem também dedicou seu trabalho à Casa foi a Irmã Silvia Assmann, 80 anos. Diferentemente de Jurema, ainda muito jovem, chegou nos primeiros anos de seu funcionamento. Mas, após a sua formação religiosa, também em Curitiba, dividiu sua carreira com trabalhos em outras comunidades. Entre idas e vindas, a volta em definitivo aconteceu em 2005. Silvia conta com orgulho a história da Casa e de suas transformações, dificuldades e adaptações. Assim como Jurema, sente-se muito orgulhosa de fazer parte dela e de ter contribuído para deixar à comunidade santa-cruzense uma instituição de tanto valor.

Irmãs Jurema Claudete de Oliveira Ramos (à direita na foto) e Silvia Assmann | Foto: Rafaelly Machado

Uma nova era em prol da primeira infância

Desde 2017, a entidade, constituída como uma associação civil, beneficente de assistência social, de direito privado e sem fins lucrativos, vem passando por um processo de readequação na administração, com a saída das Irmãs da congregação Sociedade das Filhas do Coração de Maria. Desde então, a Casa da Criança é coordenada voluntariamente por um grupo de pessoas da comunidade. Formado por 14 pessoas, conta com advogados, médicos, jornalistas, engenheiros ambientais, empresários, dentistas, contadores, corretores de imóveis e aposentados.

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“Somos um grupo de amigos que pratica o voluntariado através da benemerência pura, trabalhando com o objetivo único de praticar o bem. Tem o papel fundamental de administrar a Casa da Criança, visando a consecução dos seus objetivos institucionais, zelando por seu patrimônio e dirigindo a associação conforme suas finalidades”, explica o presidente da instituição, Cássio Anversa.

Foto: Rafaelly Machado

Ele, que é advogado e faz parte do grupo de voluntários desde a transição, conta que a Casa da Criança foi modernizada, passou a se adequar às legislações específicas, seguir conceitos atuais de administração escolar e atender a três pontos específicos: a criança, a família e o social. Também passou a contar com equipe técnica especializada para promover o atendimento integral às crianças, garantindo seu bem-estar.

“Mais que educar, assistir e cuidar, a instituição passou a ter como finalidade formar cidadãos, contribuindo para o desenvolvimento pessoal e familiar das crianças, e dessa forma constituir uma sociedade responsável e com justiça social”, salienta Anversa.

O supervisor administrativo da escola, George da Silveira Barros, ressalta que na área pedagógica, a entidade busca promover o desenvolvimento integral da criança em seus aspectos cognitivos, motores e emocionais. E que por isso, na instituição, respeita-se uma infância permeada por diversas vivências e experimentações, sempre valorizando o contato com a natureza e suas relações em cada contexto.

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Segundo ele, dentro do processo de reestruturação, a Casa da Criança está em fase de adaptações. Foram feitas as transições para as novas salas, o que fortalece, gradativamente, vínculos renovados com os envolvidos: criança, educador e família. “O atendimento às famílias é realizado de acordo com o desenvolvimento da rotina e das necessidades pontuais de cada uma”, destaca George Barros.

Foto: Rafaelly Machado

De acordo com o supervisor, hoje são 180 crianças matriculadas, recebidas em turno integral ou em meio turno. A casa conta com uma equipe multidisciplinar formada por 54 colaboradores, entre eles professores, assistente social, psicóloga, nutricionista, coordenadora pedagógica, auxiliares de desenvolvimento, equipe administrativa e de serviços gerais.

A Casa da Criança está localizada na Rua Carlos Trein Filho, 1.632, no Centro de Santa Cruz do Sul. O local atende crianças de zero a 6 anos, por meio de convênios com a Prefeitura e empresas, bem como disponibiliza vagas particulares.

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Depois da acolhida, a retribuição

Marcela Lopes da Silva, de 42 anos, lembra com carinho o período em que frequentou a escola. “Fui criança da Casa da Criança, eu e os meus irmãos. Hoje, quando passo pelos seus corredores, sinto o cheiro de quando eu era pequena. É uma lembrança boa e gostosa”, conta. Uma das recordações marcantes é que a mãe sempre lhe recomendava comer todas as refeições na escola. Isso porque os pais estavam em processo de separação. Conforme ela, estavam passando por dificuldades e a Casa da Criança ajudava muito as mães solo. “As irmãs que a administravam naquela época cuidavam da gente como se fôssemos filhos delas. Então era o nosso lar”, relembra. Também conta que adorava o pátio da escola com uma enorme árvore, onde brincava com as outras crianças à sua sombra.

Marcela ingressou na escola aos 4 anos. A partir do 1º ano, ela foi para um colégio, mas até seus 12 anos passava as tardes na Casa, onde as irmãs e as professoras ajudavam a fazer os temas. “Hoje a minha gratidão é grande, fui criança da Casa e hoje sou professora. Estou há 21 anos nesse meu primeiro emprego de carteira assinada. Amo a educação e o que faço atualmente é passar o que aprendi na Casa da Criança”, garante a professora que estudou Magistério e Pedagogia e fez pós-graduação na Educação infantil.

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E a ligação não para por aí. Marcela nem era nascida quando sua mãe, Vera Maria Lopes, também trabalhou no local. Na época, era funcionaria da lavanderia. Já as suas filhas, Daniela e Julia, de 15 e 7 anos respectivamente, frequentaram a escola de setembro de 2008 até 2010.

Marcela Lopes da Silva e as filhas, Daniela e Julia | Foto: VRFOTOEVIDEO

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Naiara Silveira

Jornalista formada pela Universidade de Santa Cruz do Sul em 2019, atuo no Portal Gaz desde 2016, tendo passado pelos cargos de estagiária, repórter e, mais recentemente, editora multimídia. Pós-graduada em Produção de Conteúdo e Análise de Mídias Digitais, tenho afinidade com criação de conteúdo para redes sociais, planejamento digital e copywriting. Além disso, tive a oportunidade de desenvolver habilidades nas mais diversas áreas ao longo da carreira, como produção de textos variados, locução, apresentação em vídeo (ao vivo e gravado), edição de imagens e vídeos, produção (bastidores), entre outras.

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