Já passava da meia-noite, hora em que o sono embala os corpos afadigados da labuta diária, quando Adenor Roso, o único taxista de Sobradinho, retorna para casa após uma longa viagem. Ao desligar o veículo, observa que a gasolina praticamente se esgotara e os postos para abastecimento já haviam fechado. Diante de qualquer emergência na madrugada, nada poderia ser feito. E assim, dirigiu-se ao quarto e foi descansar.
Mas o destino não avisa o dia nem a hora. Em meio ao descanso, é acordado com palmas e gritos por alguém que está na rua, aflito a pedir socorro. Ao sair na porta, encontra um senhor já nervoso que lhe explica em poucas palavras: “meu filho está a nascer, precisamos levar minha mulher até o médico em Arroio do Tigre!”
Vamos dar uma pausa! Para que você compreenda os personagens desta história precisamos lembrar que estamos em meados de 1960 e seu Adenor Roso, hoje com 79 anos de idade, exercendo o ofício diário há 55 anos, era o único taxista da cidade. Atualmente casado e com dois filhos, Adenor recorda com emoção dos dias em que rodava com o Ford 38 ou anteriormente com um Stand, carros já desconhecidos da nova geração, mas que fizeram história entre os motoristas.
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E era uma destas raridades que lá estava na garagem, com um ‘pingo’ de gasolina quando a emergência bateu na porta de Adenor. O taxista então explica ao cliente, que já se exasperava em frente à casa, que não tinha gasolina e o risco de ficar na estrada no meio da noite e com a esposa do homem já entrando em trabalho de parto era muito grande.
Sem muitas opções, o senhor que o procurara insistiu com todos os meios e disse que não havia outra escolha e que aceitava correr o risco de viajar sem combustível necessário para completar a corrida. E assim partiram.
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A viagem seguia tranquila apesar do nervosismo de estar conduzindo uma moça que já sentia as dores do parto nos solavancos da estrada quando o esperado acontece. Acaba a gasolina! O veículo para na estrada, sob a escuridão da noite, deixando os ocupantes atônitos. O que fazer agora?
Roso observa a paisagem ao redor e percebe que já estão na altura da atual Linha Rocinha. Como era conhecido na região, procura uma casa, acorda os proprietários e pergunta onde encontrar combustível nas redondezas, pois conduz uma moça que está prestes a dar a luz um bebê. Para a surpresa dele, o proprietário vira-se e mostra um galão cheio de gasolina, combustível que seria mais do que suficiente para completar a viagem.
Aliviado, Roso corre em disparada ao veículo, abastece rapidamente e consegue completar a viagem. Mal acabam de chegar a Arroio do Tigre quando a jovem entra em trabalho de parto e ali, naquela lendária e sofrida madrugada, ouve o choro do filho que acaba de nascer.
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Essa é apenas uma história do taxista, que viu várias gerações nascer e desaparecer, enquanto segue firme, ali no volante, já prestes a festejar 80 anos e ainda disposto a fazer parte de outras histórias que o destino lhe reserva nos dias que virão.
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