A 27ª edição do Grito dos Excluídos foi realizada na manhã desta terça-feira, 7, na Paróquia Conceição, no Bairro Bom Jesus, em Santa Cruz do Sul. O ato ecumênico, organizado pela Igreja Católica, foi integrado também por movimentos sociais, partidos e sindicatos do município que se posicionam contrários ao governo federal. O ato começou às 9 horas e reuniu fiéis na paróquia, cumprindo os protocolos sanitários, com uso de máscara e álcool em gel. O tema desta edição é “Na Luta por participação popular, saúde, comida, moradia, trabalho e renda já!”.
Segundo o padre Jolimar Silva, que fez parte da organização do evento, a intenção do ato foi dar voz às pessoas marginalizadas. “É um ato celebrativo da Igreja Católica com as igrejas irmãs, um ato ecumênico, onde temos como objetivo dar voz e vez aos que estão excluídos e excluídas da sociedade. Aos desempregados, aos moradores de rua, às pessoas que estão em situação de vulnerabilidade, aos que sofrem violência, mulheres, negros, a nossa juventude negra que está sendo assassinada diariamente, os LGBTQI+ que são nossos irmãos e sofrem também com toda essa situação de violência”, explicou à Rádio Gazeta.
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Conforme o líder religioso, o evento tem pilares que tratam da dignidade e do respeito. “Acima de tudo, o grito dos excluídos vem trazer esse alerta para a sociedade, não só aos religiosos, mas toda a sociedade, sobre a importância de vivermos aquilo que chamamos de quatro eixos do Grito dos Excluídos neste ano”, disse. Os pilares “falam sobre soberania, a dignidade do trabalhador e da trabalhadora, sobre o respeito à vida humana em todas as suas dimensões, desde a vida animal, a vida florestal, dos moradores naturais deste país, que são aviltados dos seus direitos, bem como da nossa situação urbana”. O ato, como o próprio nome já diz, manifesta a voz de quem é excluído: “Então, o Grito dos Excluídos vem ser uma voz daqueles que muitas vezes não são ouvidos dentro da nossa sociedade”, destacou o padre.
O padre reforçou que a presença dos movimentos sociais e partidários, junto aos fiéis de diversas igrejas, é um reflexo de objetivos em comum. “O Grito dos Excluídos não se faz sozinho, não é apenas um ato das igrejas ecumênicas, mas é também um ato de toda a sociedade civil organizada, dos sindicatos, das associações, dos movimentos, todos estes que têm a preocupação com a vida humana, com todas as suas dimensões”, comentou.
Na programação houve ainda um ato celebrativo e, depois, o momento chamado de “grito do povo”, com espaço para que as pessoas, representando suas bandeiras, falassem “sobre o seu olhar, sua impressão sobre a realidade que estamos vivendo”. “Isso que enriquece o nosso grito, e tudo num clima de paz, de respeito e de amor entre nós, porque tudo que queremos é valorizar a vida. Jamais queremos disseminar o ódio, a violência e a morte. Nós precisamos é viver a vida em abundância, em plenitude”.
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Entre os movimentos presentes no ato, o Centro dos Professores do Estado do Rio Grande do Sul (Cpers) esteve representado pela diretora do 18º núcleo, Cira Kaufmann. A líder do movimento destacou a importância da participação no evento, apesar da chuva: “Nós achamos importante estarmos aqui porque tem uma política nacional que ataca o povo brasileiro e ataca também os educadores estaduais. É a questão do desemprego, é a questão do preço do combustível, do preço da alimentação, do preço da energia elétrica, que está num índice tão elevado que é impossível o nosso povo viver nessas condições”, disse.
Os problemas, segundo ela, afetam diretamente a categoria, inclusive pela defasagem de salários – uma das principais bandeiras levantadas pelo movimento. “Professores e funcionários das escolas estaduais estão há sete anos sem reposição, fruto de uma política de exclusão do ex-governador Sartori e agora do governador Leite. E nós estarmos com o salário defasado há sete anos, com uma inflação enorme, faz também a nossa categoria passar por dificuldades.”
Cira destacou, em entrevista à Rádio Gazeta, que o objetivo da participação no Grito dos Excluídos é pedir “vida digna para o povo brasileiro”, “reposição salarial para os educadores” e “defesa da democracia”. “A democracia brasileira é tão frágil, tem poucos anos. Tivemos tantos golpes contra a democracia. Nós, da educação, não podemos nos calar quando setores reacionários estão em Brasília e outras capitais, querendo fechar o STF, e querendo impor uma república das milícias. Estamos aqui na defesa da nossa pátria e do povo brasileiro”, finalizou a diretora do 18º núcleo do Cpers.
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Também presente no evento, o presidente do PT em Santa Cruz do Sul, Frederico de Barros, destacou a importância da mensagem emitida no ato. “Estamos aqui denunciando que, passados tantos anos da nossa independência, da nossa colonização, nós seguimos sendo um país subdesenvolvido, que não tem a sua independência. E também, nesta data, registrar quem são os responsáveis pela nossa miséria, pela pobreza, pela fome. Portanto, esse é um dia de denúncia, de celebração, de mostrar que a vida está acima de tudo, acima do lucro, acima dessa ideia de sociedade que nós buscamos combater”, comentou.
“Estamos buscando trazer essa mensagem, que esses que buscam condenar o Brasil a um destino obscuro e a sua população à pobreza, à miséria e ao desemprego precisam ser cobrados. E nós denunciamos publicamente isso”, disse Frederico.
Entre as figuras conhecidas da política no Grito dos Excluídos estiveram o ex-vereador (de 2001 a 2004) pelo PT João Pedro Schmidt; a candidata a deputada estadual nas eleições de 2018 pelo PT Dieni Berté; e Manu Mantovani, que integrou a chapa petista nas últimas eleições municipais em Santa Cruz do Sul, ao lado de Frederico de Barros. Conforme o presidente do PT no município, estão presentes ainda representantes dos sindicatos dos bancários, dos comerciários e dos vigilantes, do Sindicato dos Professores do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinpro), Sindicato dos Professores Municipais Santa Cruz Sul (Sinprom) e Cpers, além dos partidos políticos PSTU, PT e PSol.
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Ao fim do evento, foi realizada uma encenação, onde panos pretos, que contavam com as palavras “morte”, “desemprego”, “negacionismo”, “privatizações”, “fome”, “violência” e “autoritarismo”, foram colocados em uma cruz por integrantes do movimento, que discursaram sobre cada tema. Em um dos depoimentos mais emocionados, Flávio Miguel Henn, diretor do Sindicato dos Professores do Ensino Privado (Sinpro/RS), relatou sua experiência após ser intubado quando foi acometido pela Covid-19, relembrando ainda as mais de 580 mil mortes no País pela doença.
Em seu discurso final, o presidente do PT em Santa Cruz do Sul e ex-candidato a prefeito pela sigla, Frederico de Barros, teceu duras críticas ao deputado federal Marcelo Moraes (PTB-RS), atual vice-líder do governo Bolsonaro na Câmara dos Deputados, citando que “não valia a pena” o município receber recursos de emendas do político, ao mesmo tempo em que ele vota a favor de pautas do governo que, segundo Barros, atingem a classe trabalhadora.
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Manu Mantovani, candidata a vice-prefeita nas últimas eleições municipais pelo PT, citou o nome de vereadores como Nicole Weber e Rodrigo Rabuske, ambos do PTB, que, segundo ela, representam o “bolsonarismo” em Santa Cruz do Sul. Também criticou o fato da deputada estadual Kelly Moraes (PTB) ter votado a favor da privatização da Corsan. “Água é um bem público, nenhum ser vivo sobrevive sem, e a nossa água vai ser vendida”, comentou.
Com informações dos repórteres Maria Regina Eichenberg e Cristiano Silva.
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