2023 foi mais um ano de contradições no clima. Do primeiro ao segundo semestre, as condições meteorológicas foram literalmente “do oito ao oitenta”. Em janeiro e fevereiro, diversos municípios do Vale do Rio Pardo e também da região Centro-Serra sofreram com os efeitos da estiagem . Nos primeiros quatro dias do ano, para se ter uma ideia, eram 44 os municípios que já haviam decretado estado de emergência em virtude da falta de chuva. Em Santa Cruz do Sul, o decreto de situação de emergência foi assinado no fim do mês. Levantamento divulgado pelo município à época revelaram que os prejuízos da produção agrícola e pecuária em Santa Cruz chegavam a R$ 19 milhões. Três caminhões-pipa atenderam as comunidades do interior e em torno de 50 mil litros de água por dia foram utilizados para abastecer reservatórios.
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Da mesma forma, acumularam perdas os municípios de Venâncio Aires, em função da queda do nível do Arroio Castelhano e das dificuldades de captação de água por parte da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan); e de Sobradinho, que registrou prejuízo na agricultura, piscicultura e pecuária, com levantamento prévio de R$ 33 milhões. Logo em seguida, entraram para a lista os municípios de Passa Sete e Boqueirão do Leão. Esse último, segundo estimativas da Emater/RS-Ascar, Defesa Civil e Conselho Municipal de Agricultura, o prejuízo era de aproximadamente R$ 10 milhões nas safras de tabaco, hortaliças, soja e milho.
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Os prefeitos de Encruzilhada do Sul, Vera Cruz, Arroio do Tigre e Candelária viriam a assinar logo em seguida os decretos. Em Candelária, a Defesa Civil registrou a distribuição de mais de 600 mil litros de água a famílias do interior. O prejuízo foi estimado em R$ 52,7 milhões. Outro município castigado foi Gramado Xavier, que vinha acumulando os efeitos da falta de chuva desde novembro de 2022 e que teve diversos açudes, sangas e arroios no interior praticamente secos.
No decorrer de fevereiro, a estiagem seguiu trazendo problemas e perdas e fez com que os prefeitos de Pantano Grande, Vale do Sol e Sinimbu também assinassem decretos.
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Em janeiro e fevereiro, os primeiros contrastes
Apesar da crise hídrica verificada nos dois primeiros meses do ano, dois eventos foram registrados nesse período e que, mais adiante, viriam a ser vistos em proporções muito mais expressivas. Em 10 de janeiro, a chuva que atingiu o Vale do Rio Pardo veio acompanhada de granizo em algumas localidades. Em Santa Cruz do Sul, moradores de Linha Saraiva, Linha Arroio do Tigre e Alto Paredão registraram a precipitação.
A Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra) contabilizou 287 comunicados de granizo. Em de fevereiro, um temporal com chuva, vento forte e queda de granizo causou novamente estragos. A força dos ventos derrubou placas, arrancou galhos e parte do telhado do pavilhão social do Estádio dos Plátanos. No estacionamento do Shopping Santa Cruz, um outdoor tombou sobre carros. O município ficou sem energia e muitas residências destelhadas.
De junho em diante, enchentes históricas
O segundo semestre foi marcado por chuvas volumosas e cheias sem precedentes. Em junho, a passagem de um ciclone extratropical pelo Rio Grande do Sul causou estragos generalizados em várias regiões, entre elas o Vale do Rio Pardo. O município mais atingido foi Venâncio Aires, onde algumas localidades do interior chegaram a registrar mais de 200 milímetros em pouco mais de 24 horas. Os transtornos levaram o prefeito Jarbas da Rosa a decretar situação de emergência. Em Santa Cruz do Sul, parte do bairro Várzea voltou a sofrer com o alagamento. As tempestades causaram inundações, alagamentos, enxurradas e deslizamentos de terra, que afetaram 41 cidades gaúchas e 31 catarinenses. A Defesa Civil do Rio Grande do Sul informou que mais de 3,7 mil pessoas ficaram desabrigadas e quase 700 desalojadas.
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Em setembro, novamente chuvas intensas. No dia 5, o nível do Rio Pardinho já preocupava a Defesa Civil de Santa Cruz. Ao todo, a enchente deixava mais de 20 mortos no Rio Grande do Sul por conta da passagem do ciclone. A maioria das mortes foi registrada no Vale do Taquari, a região mais afetada com as cheias. Em poucas horas, o Rio Taquari atingiu 29,62 metros de nível e devastou as cidades de Muçum e Roca Sales. A força das águas também deixou marcas de destruição em Encantado, Arroio do Meio, Lajeado, Estrela e Venâncio Aires, em Vila Mariante. As águas do rio destruíram casas, empresas, infraestrutura e, principalmente, levaram vidas. Ao todo, 52 pessoas morreram – 16 delas em Muçum e outras 13 em Roca Sales.
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A destruição foi tamanha que o presidente da República em exercício, Geraldo Alckmin, esteve na região com uma comitiva de ministros e o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite. Na ocasião, foi anunciada a liberação de R$ 741 milhões para a reconstrução da estrutura perdida devido às fortes chuvas. Os estragos causaram comoção em toda a comunidade regional que se mobilizou para fazer doações de roupas, alimentos e donativos básicos aos atingidos. Correntes de solidariedade se formaram, demonstrando gestos genuínos de humanidade.
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Todavia, em 18 de novembro, pouco mais de dois meses depois, a quantidade expressiva de chuva que caía sobre o Vale do Taquari trouxe novamente preocupação aos moradores. As águas do Taquari invadiram as cidades do Vale e muitos moradores de Muçum e Roca Sales perderam tudo outra vez, inclusive as doações arrecadadas após a primeira enchente. Desta vez, o nível do rio chegou a 28,94 metros.
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Entre setembro e novembro, o Rio Pardinho também subiu e ocasionou transtornos. Em Santa Cruz, muitas famílias do bairro Várzea deixaram suas casas. Equipes da Prefeitura, com apoio do 70º Batalhão de Infantaria Blindado, atuaram na remoção de moradores. Em Encruzilhada do Sul, o volume de chuva acumulado superou os 300 milímetros em dois dias, deixando comunidades isoladas e mais de 6 mil pessoas atingidas.
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