A proximidade do novo ano, além dos impostos, traz as inevitáveis reavaliações sobre o que fizemos. E como tudo ainda pode ser pior, também somos instados a refletir sobre o que pretendemos para o próximo período. Já sabemos que, pelo menos em certos níveis da existência, pouco ou quase nada muda – de um ano para outro, de uma década para outra e até de um século para outro. Então não faz muito sentido perder tempo desejando que o futuro seja melhor do que o passado recente. Menos importância ainda deveríamos dar a superstições como usar roupa desta ou daquela cor ou comer isto ou aquilo.
Mas se mesmo assim insistirmos em querer olhar o próximo ano com algum otimismo, que “resoluções” seriam, digamos, mais “adequadas”? Há algo que se possa desejar como uma melhoria em nossa vida sem nos fazer cair na vala comum dos desejos que nunca se realizam – especialmente quando envolvem questões coletivas? Há como fugir das boas intenções (paz, justiça social, fim da corrupção, proteção aos que consideramos mais vulneráveis)?
Pessoalmente, acho que existem apenas duas coisas que fazem algum sentido quando pensamos em futuro.
Primeiro, se nosso desejo for realmente de mudança para melhor, temos que ser tolerantes com os erros – os nossos. Há grandes falhas que podemos cometer, inclusive prejudicando terceiros de forma irremediável, e isso não se pode aceitar. Mas quando falamos dos pequenos equívocos que nos ensinam a evitar, em busca de uma perfeição inalcançável, a regra tem que ser tentar sem medo, falhar muito e aprender o que for possível. Não se engane: qualquer pessoa que você admire, tanto faz por que razão, nada mais é do que o resultado de uma soma interminável de erros. Se ela for bem-sucedida – por qualquer critério que se queira usar –, seu único mérito foi não ter sucumbido à própria censura e a dos outros, mandando ser à prova de falhas.
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Segundo, em qualquer coisa que se faça, uma regra se impõe: não existem atalhos. Essa ideia, claro, nada tem de novo, é repetida por muitos para ilustrar o quanto são bons e especiais. Mas contrariando o que se diz, de que qualquer coisa importante vira lorota ao ser repetida exaustivamente, nesse particular trata-se de uma verdade. Não é possível ler um livro pulando páginas, saltando em busca de atalhos que tornem a tarefa mais rápida, da mesma forma que não se pode pular etapas. É preciso ir da primeira à última página, do primeiro ao último item, em qualquer atividade, cumprindo o roteiro. É possível sobreviver atalhando? Sim. Mas o máximo que se consegue é isso, sobreviver.
Errar muito e não tomar atalhos. São só dois conselhos. Mas quem sabe eles possam ser de alguma valia em 2018. Para saber, só tentando.
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