Poucos meses (e pouco mais de 100 quilômetros) separaram duas colônias formadas com alemães em meados do século 19 em território de Santa Catarina. Os dois projetos resultaram naquelas que são, 173 anos depois, duas das mais pujantes cidades daquele Estado. Mais: ostentam, ainda, a condição de polos econômicos, alavancados por um turismo justamente apoiado sobre o legado germânico.
Em 2 de setembro de 1850, as primeiras famílias chegavam à Colônia São Paulo, fundada pelo químico e farmacêutico alemão Hermann Otto Blumenau. Já em 9 de março de 1851 se instalavam alemães na Colônia Dona Francisca, homenagem à princesa Francisca de Bragança, irmã de D. Pedro II, e casada com o francês Francisco Fernando de Orléans, príncipe de Joinville. Foi em área que ela ganhou como presente de casamento que a colônia surgiu, entrando para a história com o
nome de… Joinville.
UMA DAS COLÔNIAS QUE MAIS CRESCEU
Pouco mais de um quarto de século havia transcorrido desde que a primeira colônia alemã por iniciativa imperial fora implantada na Real Feitoria do Linho Cânhamo, atual São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, quando imigrantes germânicos chegaram à Colônia Dona Francisca, no litoral de Santa Catarina, no dia 9 de março de 1851. A área ficava não muito longe da divisa com o Paraná.
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Ali, o francês Francisco Fernando de Orléans recebeu terras como dote, ao se casar, em 1843, com Francisca de Bragança, irmã de D. Pedro II. Em 1848, o casal negociara parte dessas terras com a Sociedade Colonizadora Hamburguesa a fim de que ali fosse implantada uma colônia com alemães. Mais adiante, o nome da localidade foi mudado para Joinville, uma vez que Orléans detinha o título de príncipe de Joinville.
O fato é que aquela colônia se desenvolveu francamente, a ponto de ter sido uma das que mais cresceu entre todas as iniciativas de colonização com germânicos no Brasil. Atualmente, Joinville possui mais de 616 mil habitantes, estando situada a 180 quilômetros de Florianópolis, ou a cerca de 2h30 de carro da capital. Um de seus trunfos está no fato de encontrar-se estrategicamente equidistante tanto em relação à região metropolitana catarinense quanto de Curitiba, capital do Paraná, 130 quilômetros (ou 1h50) mais ao Norte.
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Não por acaso, por constituir um polo regional da indústria e do comércio, Joinville é a cidade mais populosa de Santa Catarina, superando inclusive Florianópolis. Com tamanho destaque, merece slogans como “Manchester Catarinense” e “Cidade dos Príncipes”, remetendo a suas origens famosas.
Uma história fixada em livros
A incomum tomada de decisão da ocupação da área que hoje compreende Joinville motivou inúmeros relatos memoriais. Obras como História de Joinville: uma abordagem crítica, de Apolinário Ternes, e História de Joinville: crônica da Colônia Dona Francisca, de Carlos Ficker, são de consulta valiosa para entender melhor o processo de desenvolvimento local. Com a base de sua economia na agricultura e, de imediato, na indústria de transformação e no comércio, Joinville projetou-se a ponto de ostentar um dos melhores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) de Santa Catarina, bem como de ter o maior Produto Interno Bruto (PIB) do Estado. As indústrias que se destacam são as de metal-mecânica, tecidos, alimentos, softwares, eletrodomésticos, computadores e máquinas.
Um empreendedor que apôs seu nome na história
Alguns meses antes que os primeiros imigrantes alemães chegassem à Colônia Dona Francisca, no interior catarinense, quase na divisa com o Paraná, um outro grupo de 17 pessoas se fixava em uma área de terras cerca de 120 quilômetros mais ao sul, já não tão perto do litoral. Ali, viriam a compor a Colônia São Paulo de Blumenau, criada por iniciativa do químico e farmacêutico alemão Hermann Bruno Otto Blumenau. Este nascera em Hassenfelde, em 1819, e já havia visitado o Brasil, em especial a região Sul do País, ao longo da década de 1840. Nessa viagem, conheceu as colônias formadas com germânicos já existentes em território gaúcho, e ficou visivelmente satisfeito e bem-impressionado com a pujança que essas famílias e suas comunidades haviam alcançado.
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Por essa razão, depois de um breve retorno à Alemanha, voltou novamente ao Brasil, e em 1850 obteve do governo imperial área de terras de duas léguas naquela localização para implantar uma colônia agrícola, com imigrantes europeus. Ao longo dos anos seguintes à chegada do primeiro lote de imigrantes, centenas de outros germânicos os seguiram, para se estabelecerem em lotes medidos e demarcados ao longo dos rios e arroios que banhavam aquelas glebas. Foi com a exploração do cultivo agrícola que a localidade passou a se destacar, beneficiando-se ainda da relativa proximidade com a capital, Desterro (depois Florianópolis), a cerca de 150 quilômetros, ou 2h20 de carro, nas condições atuais.
Se no princípio a colônia pertencia ao dr. Blumenau, em 1860, apenas uma década após a implantação, o governo imperial encampou o empreendimento, mas o fundador seguiu na direção do projeto até a elevação a município, em 1880. Com seu espírito empreendedor e seu arrojo, ele foi um responsável direto para que, com gestão eficiente e investimentos em áreas estratégicas, como a infraestrutura, a colônia se tornasse uma das mais pujantes em realidade catarinense. Mais adiante, o doutor Blumenau retornou à Europa, e acabou falecendo em Braunschweig, em 30 de outubro de 1899, com 79 anos.
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No Brasil, seu nome seria eternizado no município que surgiu do empreendimento agrícola que ele idealizou. Aos alemães que chegaram de forma pioneira mais tarde uniram-se italianos, poloneses e portugueses, muitos oriundos de outras regiões do Estado ou do País. Mas a identidade germânica se salientou inclusive como atrativo para o turismo, sendo que a Oktoberfest de Blumenau, nos moldes da de Munique, na Alemanha (ou ainda da de Santa Cruz do Sul), é uma das mais populares no Brasil.
Atualmente, Blumenau conta com 361 mil habitantes e, ainda que se mantenha com pouco mais da metade da população de Joinville, à qual antecedeu em alguns meses, mantém uma forte condição de polo regional. Na verdade, quase 40 municípios surgiram dessa colônia, de Blumenau desmembrados. Ao lado da agricultura, que segue sendo praticada em pequenas propriedades de perfil familiar, a indústria, o comércio e os serviços atraem a população do entorno à cidade-sede.
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E as festas focadas nos costumes germânicos, com ênfase na gastronomia e na bebida (a cerveja e o chope), levam milhares de brasileiros até lá em diferentes épocas do ano. Na condição de colônia idealizada por um único empreendedor, Blumenau se revela um case de absoluto sucesso em âmbito internacional.
Um modelo de colônia que gerou muito interesse
O empreendedor Hermann Blumenau foi um homem de visão. Por isso, a sua decisão que resultou na implantação da colônia da qual surgiria a cidade catarinense com o seu sobrenome mereceu uma série de abordagens históricas e críticas. Críticas no sentido de análise do modelo de projeto colonial que adotou. Entre as inúmeras publicações referenciais, os dois tomos do livro Colônia Blumenau no Sul do Brasil, coordenado por um grupo de autores e articulistas, é de consulta fundamental. Foi lançado em 2019, com 800 páginas, em capa dura.
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Em paralelo, em meio a vários outros volumes de cunho histórico, biográfico ou voltados à socioeconomia regional, a obra História de Blumenau, de José Ferreira da Silva, lançada em 1988 pela Fundação Casa Dr. Blumenau, sistematiza os principais pontos associados à chegada dos primeiros imigrantes alemães. E, naturalmente, agrega as contribuições das demais etnias, que ajudaram a conformar o mosaico étnico da antiga colônia e atual município de Blumenau, bem como das localidades desta emancipadas ao longo do tempo.
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