Em um tempo anterior ao advento ou à maior difusão da fotografia, eram os artistas que eternizavam paisagens ou fisionomias em pinturas, desenhos ou gravuras. E não foi diferente com o ambiente da colonização no Rio Grande do Sul. Em várias regiões e épocas, mestres do desenho e da pintura fixaram instantes ou flagrantes do cotidiano. Alguns se destacam pelo pioneirismo.
É o caso do alemão Herrmann Rudolf Wendroth, que veio ao Brasil em 1851 para lutar na Guerra contra Rosas (como mercenário, ou Brummer) e que deixou registros primorosos de Porto Alegre e de outras cidades gaúchas (incluindo uma perspectiva de Rio Pardo justamente da época em que os primeiros colonos chegaram a Santa Cruz).
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Já na década de 1880, um casal de alemães, Aléxis Puhlmann e Justina Kerner Puhlmann, se fixava na Colônia Santo Ângelo (atual Agudo) e ali se dedicava à pintura, deixando telas preciosas.
Por essa mesma época surgiu outro artista, Pedro Weingärtner, filho de alemães, nascido em Porto Alegre. E em Santa Cruz, já no começo do século 20, o alemão Franz Steinbacher firmou seu nome para a história.
O Rio Grande do Sul e o Brasil teriam sido privados de um olhar raro e privilegiado sobre o contexto da imigração para o Sul do País se não tivesse existido o alemão Herrmann Rudolf Wendroth. E isso que ele nem veio como colono ou com outra ocupação formal, e sim como mercenário. Wendroth integrou a Legião Alemã, também chamada de Brummers, para, a convite do Império, lutar pelo Brasil na guerra contra Rosas. Mais do que um soldado, era um artista plástico amador. Exímio desenhista, foi desenhando paisagens e personagens pitorescos que deixou um legado valioso para a história.
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Um desses registros interessa diretamente ao Vale do Rio Pardo. Ocorre que em 1852, já desligado da Legião (junto à qual parece ter sido um legítimo Brummer, ou rezingão, reclamão), percorreu várias regiões gaúchas para desenhar a paisagem, e o fez também em Rio Pardo. Deixou um olhar, a partir da margem direita do Jacuí, de onde permite ver a confluência do Pardo, quando este ingressa no Jacuí, e a cidade sobre a colina. É praticamente a cena que terão visto os primeiros colonos alemães a chegarem a Rio Pardo para, de lá, serem levados à Colônia Santa Cruz, no interior do município, dois anos antes.
Sobre Wendroth pouco se sabe. Teria nascido em Mainz. Chegou ao porto de Rio Grande em 8 de agosto de 1851, onde conheceu Karl von Koseritz, outro Brummer, depois influente jornalista. Foi preso por embriaguez. Deslocou-se a Pelotas, e mais uma vez foi preso. Por isso, não foi nem para a guerra, tendo sido levado a Porto Alegre e depois a Rio Pardo. No percurso, desenhou várias situações, até o presídio onde esteve recolhido.
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Esboços, aquarelas e desenhos ficaram como memória dessas andanças pelo Estado. Estiveram em diferentes mãos, até que, em 1982, a Riocell fez edição parcial como presente de fim de ano para funcionários e clientes, o primoroso volume O Rio Grande do Sul em 1852: aquarelas de Herrmann Rudolf Wendroth. Após seu périplo pelo interior gaúcho, teria falecido em Buenos Aires, por volta de 1860.
Um porto-alegrense filho de pais alemães é responsável por um dos mais amplos e preciosos acervos de arte sobre o ambiente da colonização europeia no Estado. Pedro Weingärtner nasceu em Porto Alegre, em 26 de julho de 1853. Em 1878, foi estudar na Europa, primeiro em Hamburgo, depois em Karlsruhe e Berlim; em 1882 mudou-se para Paris.
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Chegou a ser financiado pelo imperador dom Pedro II. Instalou ateliê em Roma. Por fim, fixou-se de novo em Porto Alegre, onde morreu em 26 de dezembro de 1929, aos 76 anos. Tempora Mutantur, de 1889, é uma de suas telas mais conhecidas. Mostra um casal de imigrantes em ambiente inicial de colonização. Eram novos tempos, em nova terra que lhes acenava com promessas, mas em que estava tudo por ainda ser cumprido, ou realizado.
Um caso único de artista plástico alemão que se fixou no interior do Rio Grande do Sul, atuando por muitos anos, é o do médico Aléxis Bruno Theodor Puhlmann, que se estabeleceu na região do Vale do Jacuí Centro, na segunda metade do século 19. Como evidencia o ensaísta Angelo Guido no artigo “Um século de pintura no Rio Grande do Sul”, inserido no volume 2 da Enciclopédia Rio-grandense, editada pela Sulina em 1968, Puhlmann atuou durante 40 anos no interior – primeiro em Silveira Martins e depois na Colônia Santo Ângelo, atual Agudo, onde inclusive faleceu. Viera ao lado da esposa Justina Kerner Puhlmann, que igualmente era pintora.
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Ele nasceu em Potsdam, Berlim, em 15 de setembro de 1832, descendente de tradicional família de médicos. Além de seguir a vocação familiar, estudando medicina, desenvolveu o dom da pintura, aperfeiçoando-se na Real Academia de Berlim.
O casal teria vindo ao Brasil em 1883, fixando-se em Silveira Martins. Dois anos depois se mudou para a atual Agudo, onde Aléxis foi o primeiro a clinicar. Em paralelo, pintava paisagens da região, muitas das quais enviava para a Alemanha. Faleceu em Agudo, em 2 de janeiro de 1923, e foi sepultado em meio à natureza. O casal não teve filhos, e Justina voltou à Alemanha em 1935, com 87 anos de idade.
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Se o médico Aléxis Puhlmann tinha nas paisagens da região da Colônia Santo Ângelo, então interior de Cachoeira do Sul, atual Agudo, seus temas preferenciais, a sua esposa Justina Maria Kerner Puhlmann, que viera com ele da Alemanha, deixou em especial retratos. O volume 2 da Enciclopédia Rio-grandense traz uma tela em que ela eternizou uma moça da colônia.
Nascida em 1846, Justina era bem mais jovem do que o marido, sendo neta de um importante poeta alemão, Justinus Kerner. Oriunda de um ambiente cultural que certamente estimulou seus dons artísticos, teve na interlocução com o marido outra via de aperfeiçoamento, que terá sido mútuo. Ao que tudo indica acompanhando Aléxis, enquanto este percorria a Colônia em atendimento aos pacientes que requeriam seus cuidados, Justina terá atendido a convites para que pintasse retratos, de conterrâneos, também vindos da distante Alemanha, ou dos seus descendentes, as novas gerações já nascidas no Brasil.
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Aléxis e Justina são um caso pouco comum de um casal que se dedicou junto às artes plásticas nos primórdios das colônias alemãs estabelecidas nas mais diversas regiões do interior do Rio Grande do Sul.
Santa Cruz do Sul também registra em sua história cultural a presença de um artista de origem germânica. Franz August Steinbacher nasceu em 26 de agosto de 1887, na cidade de Innsbruck, na região do Tirol, na Áustria. Chegou ao Rio Grande do Sul no início da década de 1920, como registrou o arquiteto e professor Ronaldo Wink, em pesquisas relacionadas a importantes elementos da arquitetura regional, nas quais esse artista deixou sua marca.
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Steinbacher era formado pela Escola de Belas Artes de Viena. Em Santa Cruz, entre seus primeiros trabalhos estiveram as pinturas murais e o foro da sala principal do antigo Banco Pelotense, atual Casa das Artes Regina Simonis. Esse prédio foi inaugurado em 1922, de maneira que Steinbacher já estava radicado na região por essa época.
No local, salienta-se a pintura representando Minerva, a deusa da fortuna, sobre a porta de entrada para o cofre. Essa pintura acabou encoberta por uma parede, erguida na década de 1960, quando as instalações passaram a pertencer ao Banco do Estado do Rio Grande do Sul. Nos últimos anos, com a cedência do local para que sediasse a Casa das Artes Regina Simonis, em 1995, houve esforço no sentido de revitalizar essa pintura.
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Steinbacher também aceitava encomendas para igrejas do interior, como foi o caso de Sinimbu e de Linha General Osório. Em Sinimbu, é dele a pintura do interior da Igreja Nossa Senhora da Glória, realizada entre abril de 1931 e setembro de 1933. Já em Linha General Osório, em Monte Alverne, pintou o interior da igreja católica São Miguel.
Além disso, Franz fazia retratos e pintava paisagens, e usava a fotografia para fazer pesquisas visuais. Uma de suas aquarelas mostra Iraí, no Norte gaúcho, que no início da década de 1930 recebia muitas famílias oriundas de áreas de imigração.
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Algumas das telas elaboradas por Franz integram coleções particulares em Santa Cruz e na região. Ele faleceu em 17 de novembro de 1933, aos 46 anos, pouco depois de terminar as pinturas da Igreja Nossa Senhora da Glória. Está sepultado no Cemitério Católico de Santa Cruz, no jazigo da família. Ali também repousa sua esposa, Wilma, nascida em 1901 e falecida em 1987. O casal teve as filhas Alice, que se casou com Forster e se fixou em Vera Cruz; e Irma, que, solteira, morou até o fim da vida na casa da família na Rua Thomaz Flores. Nascida em 1927, Irma faleceu em 2010, e por 25 anos esteve sob cuidados do santa-cruzense Armindo Goelzer, que ainda preserva fotos dos Steinbacher. Inicialmente, Franz se estabelecera na Rua Marechal Deodoro, a partir dali atendendo clientes. Posteriormente, adquiriu chácara na Thomaz Flores, e então se mudou para lá.
O jornalista José Augusto Borowsky, que assina a coluna Memória às segundas-feiras, em mais de uma edição mencionou Steinbacher. Borowsky lembra que na cidade também atuou o pintor alemão Arno Seer. Além de cenas do ambiente urbano, é de Seer a pintura do “Grupo da Cruz” existente atrás do altar na Catedral. A Gazeta do Sul publicará matéria especial específica sobre Franz Steinbacher na edição do final de semana dos dias 20 e 21 de janeiro.
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