No sábado, dia 13, a Associação Médica de Santa Cruz do Sul promoveu evento que contou com a participação de 200 médicos da região abordando o manejo e tratamento da Covid. Devido ao grave momento que estamos passando, penso ser importante que a sociedade saiba que estamos engajados na defesa da saúde da população.
Iniciamos nossas atividades com a palestra do Dr. Carlos Eurico Pereira, onde foi abordado o diagnóstico clínico e testagem de Covid. Sua mensagem principal foi de que não devemos aguardar os resultados dos testes. Qualquer sintoma gripal, intestinal ou constitucional deve ser considerado Covid. Caso a pessoa estiver com esses sintomas, ela precisa imediatamente se isolar e buscar atendimento remoto.
Nossa segunda aula foi proferida pelo Dr. Eduardo Sonda, que nos falou sobre fatores de risco. Homens e pessoas de idade avançada têm maior risco, mas se observa um aumento de caso e de gravidade em pessoas mais jovens. Comorbidades agregam um maior risco também, principalmente hipertensão, diabetes e obesidade, sendo esta última um grave problema de saúde pública há décadas.
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Posteriormente tivemos a explanação do Dr. Rui Dorneles sobre profilaxia. Na profilaxia pré-exposição, precisamos manter distanciamento social, usar máscaras e fazer a limpeza adequada das mãos. Vacinas são fundamentais e o uso de medicação é bastante controverso. No pós-exposição, o uso de medicações também é controverso e estão em desenvolvimento anticorpos neutralizantes, porém ainda distantes da nossa atual realidade.
Uma das aulas mais esperadas foi dada pelo Dr. Eduardo Hermes. Ao abordar o tratamento precoce, ele explicou que o vírus entra em nossa célula por dois caminhos e os medicamentos indicados têm como efeito impedir ou dificultar essa entrada. Ele reforçou que monoterapia não funciona e que uma vez o vírus dentro da célula, a efetividade desaparece. Por isso os remédios devem ser tomados em até cinco dias após o início dos sintomas. Ele encerrou sua fala com uma frase de Carl Sagan: “Ausência de evidência não é evidência de ausência”.
O Dr. Eduardo Rossato abordou o uso de corticoide. Ele recomendou não fazer uso na primeira semana, pois é a fase de replicação viral e o corticoide pode atrapalhar nossa imunidade. Quem já usa essa medicação por outras causas não deve parar de tomar. Ele relata que o uso de corticoide está indicado para pessoas que estão em uso de oxigênio e que reduz o tempo de entubação. Pode se usar na fase inflamatória também, a critério do médico. Nunca no início dos sintomas.
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Na sequência, o Dr. William Rutzen falou sobre falta de ar. Ele explicou que as partes inflamadas do pulmão pelo vírus recebem mais sangue, o que aumenta a inflamação e gera uma tempestade inflamatória. Com saída de gás carbônico normal e entrada de oxigênio diminuída, nosso sensor respiratório não detecta a piora e quando o paciente sente falta de ar, é porque já há comprometimento do pulmão (hipoxemia silenciosa). Oxímetro domiciliar pode ajudar, mas é preciso cuidados para medir corretamente. Quando houver falta de ar deve-se usar anticoagulante, oferecer oxigênio e logo deixar o paciente deitado de bruços para facilitar a entrada de ar.
Nossa última aula foi do Dr. Marcelo Carneiro, que relatou sua experiência com pacientes graves e entubados. Ele recomenda não antecipar a entubação, mas não se deve atrasá-la, pois podemos estar desperdiçando oxigênio e cansando o paciente. Ele recomenda que após a saída da ventilação mecânica, o paciente seja mobilizado de forma precoce. Sua percepção é de que mesmo pacientes que se recuperam enfrentam uma síndrome pós-Covid, muitos com depressão e risco de suicídio.
De fato estamos vivendo um momento crítico. Mas fui testemunha de uma mobilização médica poucas vezes vista em nossa cidade, que diga-se de passagem é privilegiada de contar com profissionais tão competentes. Apesar de algumas divergências, seguimos unidos e utilizando todas as armas disponíveis contra este inimigo.
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