Uma das particularidades que mais aprecio nesta vida de repórter/jornalista é a eterna disposição de observar o mundo ao redor para colher experiências sempre muito diversas. Ouvir conversas alheias para transformar em crônicas se assemelha às fofoqueiras de outrora. Eram aquelas que ficavam postadas na janela, de olho espichado no movimento da rua e nas casas vizinhas. Por isso, sem hesitar, costumo dizer, quando perguntado, “sou um fofoqueiro diplomado e remunerado”.
Voltando às chamadas “marocas de janela”, lembro que elas apuravam o ouvido para captar diálogos de todo tipo. Adotando critérios inconfessáveis, as “repórteres leigas” montavam enredos transmitidos às amigas. É claro que as estórias costuradas a partir de retalhos visuais e auditivos nem sempre correspondiam à verdade. Mas quem não gosta de um pouco de ficção com pitadas de maldade?
Sábado passado criei coragem para almoçar em um bufê – o Restaurante Borsatto, em Porto Alegre, perto da Avenida Protásio Alves. O proprietário, meu conterrâneo, falou-me dos desafios enfrentados nesses sete meses de confinamento compulsório, da dolorosa dispensa de funcionários e do afastamento por saúde de outros. Otimista, acredita que o pior passou.
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Ao local convergem moradores da vizinhança e outros clientes – como eu – que chegam somente nos sábados. Criou-se uma espécie de confraria que inclui muitos idosos e crianças de colo. Famílias com até três gerações vão ao restaurante. Sábado observei o bate-papo de uma senhora e um rapaz de uns 40 anos. Trocavam amenidades, lamentaram a pouca convivência e as restrições.
Chamou-me a atenção quando o homem falou sobre a pouca frequência no bairro:
– Cuido da minha avó, de Canoas. Ela tem 100 anos, com saúde quase perfeita, e adora jogar canastra o dia todo! – afirmou, chamando a atenção dos vizinhos de mesa.
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A senhora ficou exultante com a notícia:
– Que legal! Além de ter boa saúde, ela conta com a tua atenção e carinho. Isso é muito importante neste momento complicado que a gente vive – afirmou.
Lisonjeado, o neto zeloso explicou que o único desconforto no convívio com a idosa residia nas dificuldades de audição da avozinha, obrigando-o, por vezes, a gritar.
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– De resto, ela está ótima. Para teres uma ideia, ontem à noite fizemos pastéis para a janta. Ela adorou… E comeu quatro, além de tomar, sozinha, uma garrafa de cerveja. E ficou braba porque paramos de servir. Se não, ela teria devorado mais! – revelou.
A revelação denunciou todos nós, abelhudos, que ouvíamos o relato e caímos numa sonora gargalhada, seguida de uma salva de palmas. Sem dúvida, a pandemia tem nos brindado com incríveis histórias de vida!
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