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1° de maio: uma data para lembrar de quem batalha todos os dias

1º de maio. A data é marcada por lutas. A busca por direitos impulsionou manifestações no passado, e continua a ser tempo de reivindicações por melhores condições de trabalho e oportunidades dignas para cada trabalhador desempenhar suas funções na sociedade.

Em um período complexo como o vivenciado atualmente, em meio à pandemia, as dificuldades se tornaram ainda maiores. O esforço é pelo seu próprio sustento e para possibilitar conforto a sua família, mas o comprometimento, este é pelo conjunto da obra, que culmina na entrega de qualidade e confiança para a comunidade.

Seja no comércio, na indústria, na prestação de serviços, nos corredores de um hospital, no atendimento ao público, no empacotamento de produtos, no trabalho braçal, no esforço intelectual, no gerenciamento das novas tecnologias, na cidade ou no interior, de dia ou à noite, no serviço público ou privado, um trabalhador é aquele que desenvolve suas habilidades com competência, buscando a cada dia fazer o seu melhor para entregar mais do que o esperado.

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TRABALHO NA ATUALIDADE
De acordo com o advogado, mestre em Direito e professor do Departamento de Ciências Jurídicas da Unisc, Neimar Santos da Silva, o trabalho sempre esteve presente na vida do ser humano, sendo importante fator de sua inserção no contexto familiar e social. “Tanto que é fácil compreender seus efeitos e impactos quando as relações de trabalho são alteradas, afetando direta e imediatamente as estruturas sociais, posições sociais hierárquicas e culturais, relevando-se na importante identidade do homem erguida nas suas relações de trabalho, que são dinâmicas e mutáveis, em face das influências dos modelos econômicos e sociais”, salientou.

Segundo ele, são múltiplas as alterações das condições de trabalho, desde a primeira revolução industrial até a atual (a quarta revolução), que tem na internet, nas ferramentas tecnológicas e na inteligência artificial, a base das rápidas e imensuráveis transformações do modelo produtivo. “Atualmente, o trabalho foi afetado pela pandemia, que exigiu do trabalhador imediata adaptação às formas de prestação das suas atividades, de enfrentar demissões em massa, ver o enfraquecimento das relações sindicais, de reduções salariais e suspensão do contrato de trabalho, legalmente autorizadas”, pontuou o professor.

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Hoje o trabalho formal cede espaço também ao teletrabalho, o famoso home-office, que ingressou em boa parte dos lares dos trabalhadores. Este novo modelo, tem exigido constante atualização, muito em razão do distanciamento social e crescente competitividade inerente ao mercado de trabalho. “Preparar-se para as mudanças e qualificar-se deve ser a pauta dos currículos”, reforçou o advogado.

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CALCULADORA, PAPEL E CANETA: A história do servidor que aprendeu a calcular com as duas mãos

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O sobradinhense Amarildo Aurélio Fardin, 59 anos, entende muito bem de cálculos e sua trajetória de trabalho está mensurada em exatos 43 anos e dois meses atuando no serviço público. A realização profissional ficou nítida em seu depoimento à nossa reportagem, quando mencionou sentir-se muito feliz.

O então jovem, que iniciou no serviço público precisamente em 16 de fevereiro de 1978, aos 16 anos de idade, antes de ingressar no quadro de funcionários municipais, chegou a ser servente de pedreiro, sendo este seu primeiro registro na carteira de trabalho. Mas foi mesmo como funcionário público, que chegou às quatro décadas de atuação. “Foi realmente onde me encontrei”, disse Fardin.

Amarildo começou, no fim da década de 1970, como almoxarife na Prefeitura Municipal de Sobradinho, surgindo tempo depois uma oportunidade no setor de tributos. Nesta função está há 41 anos e dois meses. Ao longo deste período, o aperfeiçoamento e a dedicação foram pilares no qual baseou sua trajetória. “Em 1982 surgiu o concurso para agente administrativo na área tributária, no qual eu passei e, depois, em 1985, para inspetor de tributos, função esta que eu exerci até me aposentar em 13 de setembro de 2017 no cargo”, acrescentou.

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Questionado sobre a permanência no trabalho, mesmo após a aposentadoria, Fardin disse ter sido convidado pelo Prefeito à época para permanecer em suas funções, tendo aceito o desafio. Na metade de 2020, o servidor foi então chamado para assumir a Secretaria de Finanças até o fim do mandato, permanecendo no comando da pasta por sete meses. “Com o término do mandato anterior, o atual prefeito me fez a mesma pergunta, solicitando se eu gostaria de permanecer. Eu acabei ficando, pois me sinto bem, me sinto feliz todas as manhãs quando saio de casa para vir ao trabalho. Enquanto tiver este sentimento eu continuo”.

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A ligação com o trabalho é tamanha, que Fardin desenvolveu uma habilidade diferente, calcular com as duas mãos. “Quando toda essa região era Sobradinho, menos Arroio do Tigre, eu tinha que calcular todo o IPTU de forma manual, datilografar todos os carnês sem uma rasura se quer. Tenho essa peculiaridade, calculo com as duas mãos. Aprendi a calcular com a mão esquerda para não largar o lápis e ter uma positividade, agilidade maior nos cálculos”, revelou ele. A adaptação, necessária ao cotidiano, reforça a necessidade de ao longo da vida adotarmos metodologias próprias, particulares, que facilitem a produção.

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Amarildo partilha sua rotina de trabalho, no complexo setor de tributos, com o colega concursado Cleber Alisson Engler, o atual oficial do setor: “veio a pessoa certa para o lugar certo”, enfatizou. “A gente traz uma história que captamos dos nossos antecessores, de que o serviço público é muito importante. Acredito que acima de tudo o servidor público tem que ter sempre um sorriso no rosto, largar os problemas na porta da Prefeitura quando chega, e pegá-los novamente quando vai embora. Aqui dentro é primordial o bom atendimento”, acrescentou Fardin. Segundo ele, quando aproxima-se o momento do fim da carreira, a preocupação é de não perder aquilo que se construiu: “o Cleber que surgiu, vai ser bem melhor que eu”, pontuou.

Amarildo Aurélio Fardin, 59 anos, entende muito bem de cálculos e sua trajetória de trabalho está mensurada em exatos 43 anos e dois meses atuando no serviço público | Foto: Nathana Redin

Recado para as novas gerações
Aos filhos e aos mais jovens, o servidor reforça: “O trabalho nunca matou ninguém. Desde cedo a gente labutou na área pública, também à frente de algumas entidades, como sou hoje atual presidente da Associação Esportiva Sobradinho (AES), então tudo aquilo que tu pegar para tocar em frente, precisa se jogar de corpo e alma, aconteça o que acontecer. Neste momento tu tem que traçar um objetivo, trabalhar para o caminho ser trilhado e dar o melhor de ti. Nem sempre irá alcançar os objetivos, mas tem que ter a consciência tranquila de que deu o teu melhor. O que fica na história de cada um é aquilo que fez, o que foi, e é por isso que vai ser sempre lembrado”.

SUPERAÇÃO: PEQUENOS SOMENTE NA ESTATURA

Entre os três filhos de um casal de agricultores de Arroio do Tigre, o primogênito e o caçula nasceram com um transtorno que se caracteriza por uma deficiência no crescimento, o chamado nanismo. Mais baixos do que comparados à média da população, Cesar Henrique Eichelberger e Carlos Eichelberger herdaram a condição genética de quatro gerações anteriores às suas. Desde à infância, a estatura menor não chegou a representar um problema, pois sempre procuraram encarar as situações com bom humor.

Carisma parece ser uma característica marcante de ‘Cesinha’, como é conhecido Cesar, hoje com 36 anos, casado e pai da pequena Maria Antônia. Há quase doze anos como funcionário de uma cooperativa de crédito em Arroio do Tigre, o mais velho dos irmãos, que também trabalhou na lavoura e na Prefeitura, disse que o sorriso ajuda a tornar mais leve a rotina. “Procuro ter sempre esse sorriso da foto, sou muito brincalhão com meus colegas. Atendo sempre com carinho e dedicação”, contou ele.

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Cesar tem aproximadamente 1m45cm, enquanto Carlos tem 1m35cm. “Sempre brincam comigo, ‘o baixinho’”, o que Cesar diz levar na esportiva. Para ele, suas dificuldades por conta da estatura são bem menores do que a de outras pessoas com condições genéticas distintas e que por isso não possuem tanta mobilidade para realizar atividades do cotidiano.

Cessinha atua há quase doze anos como funcionário de uma cooperativa de crédito em Arroio do Tigre


Ocupando uma vaga PcD, Cesar ingressou na cooperativa em 2009. “Faço de tudo no banco, sou assistente de atendimento. Atuo na parte da frente, com o público, e na parte interna em outras funções”, enfatizou. “Eu me sinto super bem no trabalho, tudo o que é mais alto é adaptado, com banquinhos, escadas. Dificuldades todos nós temos. O trabalho para mim significa tudo, sem ele não conseguimos realizar nossos sonhos”, concluiu.

Já Carlinhos, 25 anos, funcionário público e suplente de vereador no município, complementa dizendo que se sente muito bem incluído na sociedade, “em nossa infância também foi bem tranquilo, o que havia mais era uma curiosidade por parte dos colegas”, disse ele. O jovem que mora com os pais no interior do município, continua auxiliando na agricultura nas horas vagas.

Anteriormente, Carlos trabalhou como vendedor/crediarista em duas empresas. Inclusive, em uma delas foi escolhido para ser porta-voz e falar sobre sua ocupação, como se sentia junto à empresa e no atendimento aos clientes, além de impulsionar o incentivo às pessoas com deficiência, para que busquem oportunidades de trabalho em vagas PcD. “Sempre busquei atender as pessoas da melhor forma possível. Sempre me senti aceito, bem visto também pela comunidade”, ressaltou.

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Sobre a importância do trabalho em sua vida, Carlos reforça: “tem que buscar, tem que gostar do que faz, isso é fundamental. A gente tem que procurar melhorar sempre. Temos que nos sentir importantes também, mostrar nosso empenho, nossa competência. Pretendo continuar trabalhando por muito tempo, enquanto tiver saúde”. Persistência para lutar pelos sonhos é a mensagem que os irmãos deixam para todos os trabalhadores.

Carlinhos é funcionário público e suplente de vereador

JUVENTUDE E A PRIMEIRA OPORTUNIDADE
Moradora do bairro Pinhal em Sobradinho, a jovem Kauana Souza, teve em janeiro deste ano seu primeiro contato com o universo do mercado de trabalho, quando garantiu uma vaga como jovem aprendiz em empresa do ramo de materiais de construção do município. “É o meu primeiro emprego e fico muito contente de ter conseguido esta vaga neste momento que estamos passando, onde muitas pessoas não estão tendo oportunidades ou até mesmo perdendo seus empregos”, contou ela, consciente das dificuldades impostas pela pandemia. 

Estudante do segundo ano do ensino médio, Kauana tem conciliado a rotina de estudos com a experiência de trabalho e a formação oferecida pelo programa Aprendiz Legal, promovido pelo CIEE, que possibilita o ingresso no mercado de trabalho, oportunizando para isto qualificação e rede de apoio. Determinada, a jovem parece ter seus objetivos bem definidos. “Sempre quis trabalhar cedo para adquirir conhecimento, ser independente, ajudar minha família e como eu trabalho com o público é muito gratificante crescer como pessoa e profissional”, revelou.

Como vendedora, a aprendiz é supervisionada pelo gerente da empresa e conta com o suporte da instrutora de aprendizagem do Aprendiz Legal, Cristiane Bolzan Ferreira. Segundo a orientadora, o programa é uma ótima oportunidade para os jovens que desejam ingressar no mercado de trabalho, pois vai além do primeiro emprego. “Existe uma preocupação com o desenvolvimento dos aprendizes. Queremos que eles estejam preparados para os desafios que se apresentarem”, pontuou, acrescentando que o jovem que participa do programa, além da experiência que adquire em seu local de trabalho, também recebe, concomitantemente, uma capacitação teórica.

Atualmente, em Sobradinho, são 20 jovens aprendizes ligados ao Aprendiz Legal. A instrutora explica que sobradinhenses interessados podem entregar seus currículos diretamente nas empresas e, quando da disponibilidade de vaga, a própria empresa seleciona e indica o jovem a ser inserido no programa. “Podem ser aprendizes jovens de 14 a 24 anos incompletos, que estejam estudando ou já tenham concluído o ensino médio. O programa estabelece contratos de trabalho com todos os direitos trabalhistas e previdenciários assegurados, com duração máxima de dois anos”, conclui.

A experiência tem contribuído para Kauana projetar o futuro. A jovem pretende cursar Agronomia e sonha com uma experiência no mercado de trabalho internacional. Para isso, desde agora ela sabe que dedicação e bom relacionamento são peças fundamentais. “Trabalhando estou sempre em contato com pessoas de personalidades diferentes, aprendendo a me comunicar com cada uma, sempre com educação e respeito”, salientou.

Estudante do segundo ano do ensino médio, Kauana tem conciliado a rotina de estudos com a experiência de trabalho e a formação oferecida pelo programa Aprendiz Legal

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