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Música

Os melhores discos lançados no país em 2017

Em um ano que foi marcado por grande instabilidade política e econômica e uma ascensão da censura voltada para as formas de arte, a música foi talvez a forma de cultura que passou entre as frestas do conservadorismo. Em 2017 muitos artistas brasileiros conseguiram expressar sua indignação em discos inspiradores e surpreendentes, e formar peças que com certeza são atemporais e estarão por muito tempo tocando nos CDs, vinis e plataformas de streaming.

O Magazine, suplemento de cultura da Gazeta do Sul, elegeu os principais álbuns lançados neste ano que traduzem muito bem o momento de polarização vivido no Brasil. Os selecionados são discos de música alternativa e representam a força de artistas independentes, que dependem em sua maioria de shows, editais e crowdfunding para o lançamento de seus trabalhos. A música se sustenta no país ainda com a ajuda do público, que vai à apresentações e compra discos e produtos, que consome música legalmente através da internet. Os trabalhos escolhidos podem não ser de grande fama, mas são representantes de uma parte da classe que sobrevive compondo por arte e para transimitir mensagens e não para tocar no rádio e na novela. Só por esse motivo, esses 15 discos já valeriam a audição, mas também são produtos de altíssima qualidade artística e uma mostra do trabalho sendo feito no país.

Ouça todos os discos em uma playlist no Spotify.

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O top 10 do ano

1. Todas as Bandeiras – Maglore

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Em seu estilo indie brasileiro a banda baiana que mostrou sua nova formação neste quarto disco, trouxe um trabalho coletivo à altura do talento individual dos músicos que a compõem. Teago Oliveira, Lelo Brandão, Felipe Dieder e Lucas Oliveira, juntos criaram uma obra que poderá ser ouvida ainda por muitos anos. Com otimismo e doçura, as letras do quarteto falam sobre a inércia da rotina pós-contemporânea, das ansiedades e dores do coração, mas apesar de todos os problemas enfrentados na atualidade conseguem monstrar um caminho de aceitação e suplantação. Nas dez faixas dançantes e psicodélicas, a banda mostra uma evolução de forma e conteúdo, com arranjos de guitarra invejáveis e letras verdadeiramente poéticas.

 Ouça: ‘Calma’, canção que faz referência e lembra os Beatles, é a que mais se destaca na primeira audição.  

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2. Espiral de Ilusão, Criolo

O rapper paulista já havia flertado com o samba de raiz em seus discos anteriores,como na canção ‘Linha de Frente’, mas surpreendeu até mesmo seus fãs mais ferrenhos com um disco com dez sambas inéditos. No trabalho, podemos conferir um passeio pela brasilidade tão característica do compositor, que sabe flertar com o público e usar o humor e em seguida explorar sua consciência política para alfinetar políticos e a burguesia.

Ouça: ‘Meninos mimados’, música que explora uma sonoridade rica acompanhada de uma letra ácida contra os mandantes do país.

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3. Recomeçar, Tim Bernardes

O vocalista da banda O Terno encantou ao lançar um álbum solo de inéditas apenas um ano após o ‘Melhor do que parece’,disco da banda de qualidade altíssima. Mas em sua obra sozinho, Tim mostra ainda mais sua faceta romântica e retrô, suas letras e sonoridades  que lembram um jovem Belchior, que fala do mundo e do amor e consegue partir o coração do ouvinte com uma canção. Suas letras são muito honestas e sempre melancólicas, mas mostram parte da alma de um artista brasileiro de imenso talento.

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Ouça: ‘As Histórias do Cinema’, onde o artista faz uma relação entre a hiper-realidade da telona com as vivências reais.

4. Beijo Estranho, Vanguart

O quarto e mais elogiado álbum de estúdio da banda de Mato Grosso é uma mistura de pop e folk que funciona perfeitamente. A banda formada por David Dafré, Fernanda Kostchak, Helio Flanders, Julio Nganga, Loco Sosa e Reginaldo Lincoln conseguiu inovar muito sem perder sua essência, mas mostra um trabalho de arranjos ricos, onde o som do violino e do piano são as marcas mais características. As letras equilibram alegrias e tristezas, mas há a clara intenção de trazer ânimo às composições mais sombrias.

Ouça: ‘E o meu peito mais aberto que o mar da Bahia’, é uma mostra de todo o romance e lirismo da banda que mostra beleza e vida.

5. Galanga Livre, Rincon Sapiência

O antecipado primeiro disco do rapper paulistano traz uma miríade composta pelo hip hop, funk, R&B e soul, em letras que falam de racismo, de pobreza e libertação. Rincon é nome artístico de Danilo Albert Ambrosio. A quebra vem com letras que falam sobre relacionamentos e conquistas, mas o empoderamento do povo negro é o grande fio condutor que faz deste um dos melhores álbuns de 2017.

Ouça: ‘Crime Bárbaro’, canção eu entre o passado e o presente mostra a perseguição ao negro e as novas formas de escravidão.

6. Boca, Curumin

Disco lançado através do edital Natural Musical, é talvez o mais divergente desta lista. Falando sobre sexo política e um mundo dilacerado, o artista traz em seu quarto álbum versos que exploram o caos urbano e as descobertas pessoais. As sobreposições de batidas e vozes demandam que as canções sejam ouvidas mais de uma vez para a absorção dos inúmeros sentidos que emanam da obra de Luciano Nakata Albuquerque.

Ouça: ‘Boca de groselha’ canção que mistura reggae, música eletrônica e ritmos brasileiros em uma letra sensual.

7. Lá Vem a Morte, Boogarins

Uma das bandas brasileiras mais elogiadas no exterior e com um show ao vivo impecável, a Boogarins conseguiu em apenas oito faixas uma das maiores realizações musicais do ano. Suas canções experimentais e psicodélicas são um choque de energia, composições complexas e lisérgicas apontam para um amadurecimento do grupo formado em Goiânia, que já apresentava muita qualidade nos trabalhos anteriores.

Ouça: ‘Elogio à Instituição do Cinismo’ música que transporta o ouvinte e é uma das melhores do conjunto.

8. Sambas do Absurdo, Juçara Marçal, Rodrigo Campos e Gui Amabis

O trio já encontra um público sempre disposto a amar suas composições e mesmo assim, não teve medo de arriscar com um disco de sambas existencialistas, que tratam de uma pluralidade de conflitos. Os arranjos criados pelo trio, talvez um dos mais talentosos da MPB atual, são acompanhados por letras de poemas curtos que falam de confissões, questionamentos e temas urbanos.

Ouça: ‘Absurdo 7’ uma das mais românticas e belas do disco que traz uma aproximação de amantes e do ouvinte com os músicos.

9. Giovani Cidreira – Japanese Food

Também produto do edital Natura Musical, o disco de rock alternativo/indie bebe na fonte de artistas conceituais da atualidade como Mac de Marco. Cada canção do disco é um experimento, uma mistura de um passado conhecido, onde você reconhece as referências e uma mistura de novidades.

Ouça: ‘Crimes da Terra’ canção comparada ao trabalho de Renato Russo nos melhores álbuns do Legião Urbana, mas que mesmo assim não faz jus.

10. Campos Neutrais, Vitor Ramil

O músico gaúcho conhecido pelo talento e pela inovação trouxe um disco financiado coletivamente, prova de que seu público quer sempre mais. Há sete anos sem lançar um disco de inéditas, o compositor traz 15 canções em português, espanhol e inglês, que além de poesia exploram o viés histórico que é a paixão o artista.

Ouça: ‘Olho d’água’, a canção é uma parceria com o música paraibano Chico César.

Mulheres trouxeram força à cena

Entre os discos mais elogiados do ano e que estão nas listas de melhores de 2017 feitas pela imprensa especializada do pais, vários trabalhos de mulheres se destacam. Por ser um abiente ainda predominantemente masculino, a música é campo de trabalho árduo para as artistas femininas, o que não impediu  que fossem lançados trabalhos de grande qualidade e que também merecem a audição. Entre eles a obra audiovisual Oyá Tempo, de Luiza Lian, trabalho carregado de conceito, uma verdadeira realização artística em forma de disco. Quebrando todos os conceitos pré-estabelecidos e granhando cada vez mais expaço, As Bahias e a Cozinha Mineira lançaram o elogiado álbum ‘Bixa’.  Após o fimdo projeto Lettuce, a carioca Letícia Novaes se reinventou como Letrux e trouxe no trabalho ‘Em Noite de Climão’ suas referências oitentistas com letras atuais. ‘Xênia’, da artista Xênia França também merece a menção,  com um soul jazzístico marcado por tambores tribais e forte religiosidade. ‘Um Corpo no mundo’, primeiro trabalho da cantora Luedji Luna também foi muito elogiado pela brasilidade e referências africanas. 

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