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Santa Cruz

Casal convivia com Edna e Belchior nos últimos dois anos

Quando Aline Kwiatkowski e Flávio da Silva voltaram para casa com o recém-nascido Davi, no fim de março de 2016, as primeiras visitas foram Belchior e Edna. Foi o casal que trocou a primeira fralda do pequeno, que quando crescesse um pouco mais passaria a se intrigar com os bigodes pretos do músico. Por um ano e sete meses, antes da morte do artista, eles viveram em uma residência no Bairro Santo Inácio. Ao lado, fica a casa dos vizinhos, que se tornaram amigos.

O primeiro contato do casal foi com Edna. Por cerca de quatro meses, ela comandou as reformas na residência. Instalou vidraças na área dos fundos e alterou a estrutura de algumas peças. Foi nesse período que Aline e Flávio se apresentaram. Edna contou que ela e o marido eram de São Paulo. Dizia que o companheiro era escritor e usava somente o primeiro nome, Antônio, para se referir a ele.

 

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Foto: Rodrigo Assmann

Em outubro de 2015, mesmo mês do aniversário de Belchior, o casal se mudou para a residência. Aline, querendo garantir uma boa vizinhança, logo passou a levar bolos para Edna. Assim, acabaram se tornando amigos. Ela dizia que seu marido viajava muito. Por um tempo, só viram Belchior algumas vezes pela janela. Mas nem desconfiavam de quem se tratava. Edna, que também gosta de cozinhar, costumava levar os pratos que preparava para os amigos.

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Até que um dia, seis meses após os novos vizinhos estarem morando na casa, Aline insistiu para que preparassem uma janta. Edna então cedeu. “Tu não sabe mesmo quem é o meu marido?”. Eles não sabiam. Com o segredo revelado, a amizade entre o casal se tornou mais fácil. “Eles eram pessoas excelentes. Super atenciosos e preocupados”. Quando Aline descobriu que estava grávida, Belchior e Edna insistiam para que ela tomasse cuidado com a alimentação. Preparavam caldos para ela. Edna chegou a participar do seu chá de fraldas.

Apesar de se manter recluso, os amigos garantem que ele vivia uma vida feliz. No verão costumava nadar na piscina nos fundos da moradia. Se exercitava dentro de casa e fazia caminhadas noturnas, junto de Edna. Usava um chapéu para ficar um pouco mais discreto. Um dia o casal caminhava pela rua, quando um carro parou ao lado deles. “Mas tu não é o Belchior?”, indagou o motorista. Belchior arregalou os olhos assustado por ter sido descoberto. Até que os dois caíram na risada. Era Flávio que tinha resolvido pregar uma peça no amigo.

O último aniversário de Belchior, de 70 anos, foi comemorado com uma pizza. Ele adorava pizza. De tomate seco, rúcula e queijo. Sem carne. Só experimentou carne de galinha uma vez porque os amigos insistiram muito para que ele provasse uma receita especial. Mas Belchior gostava mesmo era do chá que Flávio preparava, com mel e ervas. “Ele me viu tomando e quis provar. Depois quando eu fazia tinha mandar uma caneca pra ele”. Durante o inverno, Edna e Belchior iam para a casa dos vizinhos e ficavam próximos da lareira, conversando. “Ele estava sempre rindo, muito feliz. Eram divertidos”, conta Flávio.

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Foto: Rodrigo Assmann

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Eles seguiam uma rotina tranquila. Conversavam pelo muro. Belchior e Edna eram muito amorosos um com o outro, lembram os vizinhos. Para Flávio, a relação do casal era mútua. “A gente percebia que ela tinha uma admiração por ele e ele por ela também”. O artista andava preocupado com a situação política do Brasil. “Eles tinham essa preocupação com o povo. Eram pessoas boas mesmo”. Antes de chegarem nesta casa tinham residido em outra moradia no Bairro Higienópolis. O proprietário era o mesmo dono da última residência. Só se mudaram de lá porque a entrada e saída de moradores passou a ser controlada. Era difícil manter o anonimato.

Nesta nova moradia, Edna costumava sair para fazer as compras da casa. Foi assim que o taxista Cláudio Pereira Batista, o Baiano, teve algumas conversas com ela. Ao motorista, disse que era do Rio de Janeiro e que estava em Santa Cruz para cuidar de um familiar. Nas vezes em que ele lhe buscou em supermercados, pedia que ele deixasse as compras no portão. “Ela nunca deixava a gente entrar. E não entendia o porquê. Quando eu vi a foto da casa, percebi que era ela”.

 

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O taxista Cláudio Pereira Batista, o Baiano, teve algumas conversas com Edna | Foto: Rodrigo Assmann

No período em que estava nesta casa, Belchior estaria compondo muito. Passava horas sozinho na sala onde acabou falecendo. Teria finalizado um novo trabalho, que garantia que seria melhor do que Alucinação. O trabalho teria sido finalizado ainda no passado. Agora teria chegado o momento de gravar. Belchior planejava fazer essa gravação em Florianópolis, num grande retorno. Flávio chegou a questionar o ídolo um dia sobre como é a vida de um artista, a fama. Belchior disse ao amigo que não se compõe uma música do dia para a noite. Nessas andanças dos últimos anos, teria se inspirado para o novo trabalho. 

Dias antes da morte, Belchior insistiu para contar aos amigos uma surpresa. Edna argumentou que ele deveria esperar para não estragar a surpresa. Belchior queria muito contar. Acabou não contando. “E a gente ficou sem saber o que era”, conta Flávio. Acordaram no fim da manhã de domingo, dia 30, e descobriram que não voltariam a ver o amigo. E, por enquanto, nem Edna, que seguiu para o Nordeste para acompanhar a despedida do companheiro. Para os amigos fica a saudade. “A gente sentiu muito. Eles se tornaram grandes amigos”, lamenta o empresário. 

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