Uma empresária santa-cruzense viveu dias de angústia até receber o diagnóstico de Síndrome de Guillain-Barré. Os sintomas eram semelhantes aos de outras patologias, mas mesmo com o uso de remédios, ficavam cada dia mais fortes. “Eu passei um dia inteiro chorando. Sabia que alguma coisa estava acontecendo comigo, mas sem saber o que era, não podia fazer nada”, comenta Juliana*. O alívio chegou depois de 12 dias, com o diagnóstico. Apesar da gravidade da síndrome, a santa-cruzense se confortou ao saber que seu quadro poderia ser revertido com um tratamento médico.
A Síndrome de Guillain-Barré é considerada uma doença rara. Atinge de quatro a seis pessoas num grupo de 100 mil, mas como Juliana diz, “foi premiada na roleta do azar”. Ela conta que o problema começou na metade de janeiro, com formigamentos nos dedos dos pés. Desconforto comum, pensou que pudesse estar associado à circulação sanguínea. No dia seguinte, ela sentiu uma dor muito forte nas costas. Tomou medicação, sem efeito.
“Durante a noite, acordei com a dor mais forte ainda e pedi para o meu marido me levar no plantão. Lá, só fizeram uma medicação na veia para diminuir a dor.” medicada, passou o dia mais tranquila, “bem”, como define. Mas no dia seguinte a dor intensa reapareceu, atingindo também as pernas da empresária de 28 anos. “Falei com um médico amigo da família e ele solicitou uma bateria de exames. Todos apontaram que eu estava bem de saúde.”
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Quatro dias após o início dos sintomas, a situação se agravou. Na segunda-feira, ela notou que havia perdido a sensibilidade nas pernas; na quinta, começou o formigamento nas mãos. Depois fraqueza nas pernas, dor nos braços, dificuldade para respirar e paralisia facial. Mãe de uma bebê de 9 meses, mal conseguia segurar a filha no colo. Exercícios comuns, como caminhar sozinha e conversar, já estavam prejudicados. Aconselhada pelo amigo médico, marcou consulta com uma neurologista e, então, suas dores e dificuldades foram, em parte, justificadas.
Assim como na maioria das vezes, a causa não foi identificada. “Não fiquei doente no último mês, não tive nada. Achamos que eu posso ter pegado um resfriado, mas muito leve, que nem chegou a se manifestar no meu corpo e que, depois de combater o vírus, meu sistema imunológico tenha se confundido e começado a atacar o sistema nervoso. Não tive nenhuma doença para justificar a síndrome”, explica. No mesmo dia, a médica pediu um exame para confirmar que tratava-se de Guillain-Barré e encaminhou a internação na UTI do Hospital Santa Cruz. Com o tratamento eficiente e a recuperação rápida de Juliana, em dois dias ela foi transferida ao leito normal e, na mesma semana, pôde voltar para casa.
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Segundo a neurologista que cuidou de Juliana, a especialista em doenças neuromusculares e neurofisiologia Angela Zanonato, na maioria dos casos, o agente que desencadeia a crise não é identificado. Só algumas espécies de vírus, dentre eles a Influenza, HIV e zika, e bactérias como a Campilobacter Jejuni (que provoca problemas gastrointestinais) podem originar a Síndrome de Guillain-Barré.
“Essas espécies têm moléculas em sua superfície que se assemelham muito às moléculas da bainha de mielina (revestimento dos nervos). Seria como se essas bactérias e vírus fossem uma espécie de camaleão: imitam muito bem a bainha. Os anticorpos produzidos para nos defender deles não reconhecem o que é vírus/bactéria e o que é bainha de mielina e acabam atacando ambos”, explica.
Mas Angela ressalta: nem todos os pacientes infectados desenvolvem a síndrome. Pelo contrário, são pouquíssimos os casos. “A crise depende de uma resposta imunológica exagerada da pessoa que é infectada pelo patógeno.” Acrescenta que a Guillain-Barré não é contagiosa e não há formas de se prevenir, já que ela é somente uma resposta exagerada do corpo. Conforme a neurologista, a maioria dos pacientes apresenta melhora ou cura da síndrome após o tratamento feito com uma ação endovenosa, chamada imunoglobulina humana.
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* Nome usado para preservar a identidade da paciente.